terça-feira, 20 de julho de 2004

Amigos

Amigos. Muitos dizem que eles são tão caros para nós porque nós os escolhemos. Nem sempre. Às vezes nós nem pensamos em tê-los como uma parte tão importante em nossa vida. Eles chegam de mansinho, nos seduzem, nos conquistam e, sem que percebamos, pelo menos não antes de ser tarde demais, nós não conseguimos mais viver sem eles. É como uma droga, quanto mais se usa, mais se deseja. É uma dependência mesmo, física, química, emocional. E em certo momento da vida, alguns são levados da nossa convivência. Uns voltam para suas cidades de origem, outros vão para cidades de destino. Outros são levados por obrigações, trabalhos, responsabilidades, e a distância aumenta, mesmo que morem há poucos quarteirões. E algumas vezes eles mudam sem trocar de endereço, mudam internamente, e quem parece mudar-se para bem longe é a amizade em si. Mas o importante é que hoje é o dia deles. E, sem eles, a vida chegaria ao insuportável, a minha, pelo menos. Por isso escrevo essas poucas palavras, pois acho que não há palavras suficientes para expressar a importância dos amigos em minha vida (e na de todos, por mais que alguns não se dêem conta disso), para celebrar o dia de hoje e para continuar uma corrente que iniciei há algum tempo, a corrente em favor da manutenção da amizade. Busquemos sempre transpor os obstáculos que a vida nos impõe para mantermos os laços da amizade. Relevemos as bobagens e mesquinharias que tornam amarga a mais doce amizade e conversemos a respeito do que realmente incomodar, para dar oportunidade ao outro de mostrar que ele não faz de propósito, apenas não conhece ainda tudo o que lhe magoa. E digamos sempre aos amigos que eles são importantes para nós, que os amamos. Não esperemos aniversários e datas como a de hoje para mostrar o valor dos amigos em nossas vidas. A amizade é uma conquista que deve ser celebrada todos os dias. Digo conquista porque amizade não é apenas amor (pois, etmologicamente, amor e amizade possuem o mesmo radical), mas sacrifícios e concessões também, assim como o namoro e o casamento. E é lutando contra os maus momentos e comemorando os bons que as amizades tornam-se mais fortes e fazem de nós pessoas infinitamente mais fortes também.
Por isso eu digo a todos os meus amigos: EU AMO VOCÊS!

quinta-feira, 15 de julho de 2004

Namoro ou amizade? Os dois!

O tema do “Meninas Veneno” de ontem, com a sempre ótima Marina Person, era namoro grude. Quando vi a propaganda anunciando o programa, eu pensei: eu tenho que assistir. Essa sempre foi uma questão que me incomodou e causou problemas com amigos e amigas e sobre a qual eu penso constantemente. Como todos que me conhecem um pouco mais sabem, eu estou sem namorada, mas não por opção. Claro, sei que falta um tanto de atitude da minha parte para ajudar as coisas a acontecerem, mas há outras questões e impedimentos que me atrapalham, porém não cabe serem discutidos aqui. A garota na berlinda do programa era a Mari, que achava que namoro não deve ser uma prisão e que não deve impedir ninguém de continuar saindo com seus amigos e ter uma vida individual, independente do(a) namorado(a). Eu me identifiquei tão de cara com ela (e com o assunto) que até deixei de assistir ao “Saia Justa” para ver o que ia acontecer ali. Embora eu tenha visto, com o decorrer do programa, que a Mari era extremista também, mas do outro lado, quer dizer, ela não conseguia largar as amigas e ter uma vida com seu namorado, vi que a discussão é muito válida e aflige várias pessoas, não só a mim. Não estou fazendo aqui um protesto contra o namoro, nem de longe. Eu gostaria muito de estar namorando, mas um namoro saudável, adulto, um relacionamento saudável. Ridículo um dos meninos que participavam do debate (Fabinho o nome dele, não me esqueci) que dizia que namorados têm mais é que ficar grudados mesmo, nada de um sair sozinho sem o outro, e, quando interpelado por uma das meninas participantes sobre onde ficavam os amigos na vida dele, disse que quando acabasse o namoro, ele iria atrás deles, o que arrancou da interlocutora dele um “pois eu não queria ser sua amiga”. Concordo com ela. Amigos não devem passar a ter menos importância quando se começa a namorar. Obviamente eles receberão um pouco menos de atenção, mas é essencial e saudável reservar a eles um tempo na sua agenda. Sempre digo que um namoro deve somar algo a sua vida, e não subtrair algo ou alguém. O argumento dos trogloditas que estavam lá para justificar porque as namoradas não podem sair sozinhas “pra balada” era o mais estúpido possível: a ocasião faz o ladrão, ou seja, ao sair de noite sem os namorados, elas estariam correndo o risco praticamente infalível de trai-los. A que nível de insegurança e burrice chegaram essas pessoas. Eu parto do princípio de que se uma garota está comigo, é porque ela quer e porque gosta de mim. Logo, não importa onde ela esteja, ela não terá vontade de ficar com mais ninguém. O mesmo vale para o caso de ela estar comigo, mas não gostar mais de mim, qualquer lugar (até mesmo a parada do ônibus) é lugar para se interessar por outra pessoa, e daí já não há nada que eu possa fazer, a não ser deixá-la seguir seu caminho e esquecê-la. Ciúme é uma sensação de posse sobre algo que não lhe pertence, pois ninguém é propriedade de ninguém. E confiança é a base de qualquer relacionamento saudável. Por isso eu peço, não larguem seus amigos, não deixem de sair com eles, se divertirem juntos, pois esses são momentos dos quais vocês se lembrarão para sempre. Namorados e namoradas vêm e vão, mas amigos verdadeiros são para sempre. Quer dizer, algum dia, alguém virá para ficar, mas nem mesmo por esse alguém deve-se deixar a vida pessoal de lado. Manter uma parte da sua vida que não possua a presença constante de seu(sua) namorado(a) é fundamental para conservar suas amizades, sua individualidade e o próprio namoro.

quarta-feira, 14 de julho de 2004

Janela

Era domingo. Ela olhava o mundo, cotovelos escorados no parapeito da janela. Os olhos já estavam cansados de tanto ler, exaustos de ver palavras imóveis que desenhavam em sua mente um mundo feito de imaginações e lembranças. Televisão, nem pensar. Se já não era uma telespectadora freqüente, aos domingos não suportava assistir ao que passava naquela tela de 20 polegadas, diferentemente de seu marido, que não abandonava o sagrado futebol e estava, naquele mesmo momento, resfolegando no sofá. Decidiu assistir ao mundo real, sem intermediações escritas ou audiovisuais. E foi quando ali estava, parada à janela, que seus olhos foram perdendo de foco tudo o que se encontrava à sua frente e se voltaram para dentro, para seus pensamentos. Apesar de estar com os olhos perfeitamente abertos e saudáveis, não enxergava mais. Uma cegueira sem cegar, um enxergar sem ver. Se os seres humanos são passíveis de divagações e devaneios em qualquer dia, aos domingos essa probabilidade parece ser multiplicada por 100. Ou menos, ou mais, depende de cada um. O fato é que paira no ar do domingo uma névoa de leve melancolia e introspecção. Começou, então, a se perguntar: onde estavam as aventuras e alegrias de sua vida? Onde estava aquele namorado galante, que a surpreendia com flores, bombons e outros mimos sem nenhum motivo aparente? Onde estava o noivo entusiasmado, que mal podia esperar pelo dia de casamento para poder ficar, finalmente, a sós com sua mulher? Onde estava o marido ardentemente apaixonado da lua-de-mel, que desejava apenas estar com ela entre os lençóis da cama? Enquanto fazia todas essas perguntas a si mesma, ela nem percebera que o jogo de futebol estava no intervalo e seu marido havia ido à cozinha, só o viu quando ele parou ao seu lado, com um prato em que estava uma laranja descascada e cortada ao meio em uma mão e um copo de suco de maracujá na outra. Não adianta perguntar por que ela gostava de comer uma fruta e beber o suco de outra, nem ela mesma saberá explicar. Entregou o prato e o copo à mulher e deu-lhe um beijo na testa. Ele virou-se, voltando à sua posição passiva no sofá. Ela respirou fundo, expulsando dos pulmões o ar pensativo de domingo. Foi quando se deu conta de que ali não estava mais o namorado impetuoso, o noivo impaciente ou o marido arrebatado. Quem estava deitado naquele sofá de um bege clarinho e almofadas grandes e confortáveis era o homem com quem passara por momentos tristes e felizes, assim como qualquer outra pessoa, o que acontece é que sempre se olha apenas para a felicidade alheia e a infelicidade própria. Quem lhe entregara um prato com uma laranja descascada e partida ao meio e um copo de suco de maracujá era o homem que ela conhecia como ninguém; aquele que sabia das suas idiossincrasias como nenhum outro; aquele que deitou-se, abraçando-a, enquanto ela chorava a morte da mãe e só se levantou quando ela mesma não conseguia mais chorar; aquele que sempre se preocupa em não deixar um sapato emborcado dentro de casa por saber que a mulher não gosta, apesar de não compartilhar nem um pouco dessa superstição. Ali estava o homem que ela amava e que a amava também.