sábado, 30 de outubro de 2004

O que é o melhor do Brasil?

Sempre que eu vou postar aparece aquela lista de “blogs legais” do UOL. E o blog do Marcelo Tas aparece (quase) sempre (adicionei o quase porque fui lá agora para confirmar o nome do rapaz e o blog dele não estava indicado). Certa vez, curioso e carregado de reminiscências saudosistas de quando ele fazia aquele quadro do Castelo Rá-tim-bum respondendo às perguntas intermináveis do Zequinha, cliquei no link, fui visitar o blog e li um post falando sobre a campanha de elevação da auto-estima nacional “O melhor do Brasil é o brasileiro”. O Tas discordava da campanha e perguntava: se o melhor do Brasil são os brasileiros, o que é o pior? Desde que li isso fiquei me perguntando a mesma coisa e hoje decidi escrever a respeito. Em primeiro lugar, acho meio perigoso esse negócio de querer levantar a auto-estima de um povo para ele se sentir melhor. Em alguma época isso deve ter sido feito com os americanos (não sob a forma de uma campanha publicitária, creio eu) e hoje eles estão aí, achando que são melhores do que qualquer outro povo da face da Terra, quando eles lembram que existe alguém mais no mundo que não eles mesmos. E, em segundo lugar, concordo com o Tas e me pergunto: se o melhor do Brasil são os brasileiros, porque esse país não vai pra frente? Por que há tanta corrupção? Nicolau dos Santos Neto, Luiz Estevão, Sérgio Benevides (para quem não é de Fortaleza, um deputado safado que roubou dinheiro da merenda escolar), Fernando Collor, Sérgio Naya, Paulo Maluf, enfim, a lista é interminável: todos eles são brasileiros. E no que foi que eles contribuíram para o país? Aliás, até acho que esse é o defeito da campanha. Tudo bem, ela ressalta o esforço de brasileiros conhecidos para superar grandes dificuldades, como o Ronaldinho e o Herbert Viana. Parabéns para eles, muita gente não tem a força de vontade de sequer tentar. Mas foi um esforço em prol deles mesmos. O que há de tão louvável (por favor, prestem atenção ao sentido da palavra “louvável”, ou seja, merecedor de louvor) em fazer de tudo para melhorar a própria vida? Vários (se não todos) dos super-ladrões brasileiros que eu citei acima começaram e continuaram sua saga de crimes para melhorar a própria vida. Claro, sei que os personagens da campanha não fizeram nada de ilícito para atingirem seus objetivos. Mas o que defendo aqui é que há pessoas dignas de muito mais louvor do que esses famosos que fizeram de tudo para voltar a ganhar tubos de dinheiro. Exemplos? Vários professores de cidades do interior (ou não) do Brasil mostrados em reportagens do Jornal Hoje na semana do dia do Professor que fazem de tudo para continuar ensinando, para manter as crianças na escola. Professores que andam quilômetros a pé para poder chegar à escola onde ensinam várias crianças, às vezes duas ou mais turmas diferentes ao mesmo tempo, para darem a elas melhores condições de vida no futuro. Pessoas que fazem tudo isso ganhando uma miséria de salário e tendo consciência disso, mas que continuam a fazê-lo por conta do futuro daquelas crianças. Sacrificar a própria vida (no sentido de fazer sacrifícios) em prol da vida dos outros. Isso, sim, é louvável.
PS: sim, os professores que tanto saudei também são brasileiros e acabei me contradizendo. Mas eu nunca prometi 100% de coerência, até porque NINGUÉM é 100% coerente, e o meu objetivo era criticar a forma como a campanha do governo foi conduzida, e isso eu fiz.

sexta-feira, 15 de outubro de 2004

Aos mestres, com carinho

Sei que o dia é de parabéns, mas não é isso que vim fazer hoje aqui. Eu quero agradecer a todos os professores que passaram por minha vida nesses 20 anos de colégio e faculdade. Agora eu me encontro no meu último semestre de faculdade. Todos os professores que haveriam de passar pela minha vida acadêmica enquanto graduando já passaram, infelizmente. Não querendo desmerecer meus professores de colégio, mas, na universidade, eu pude ver o conceito do que é ser um professor, um mestre em sua completude, pois o ambiente universitário e a idade já mais avançada dos estudantes permitem um maior contato entre professores e alunos. Matérias foram ensinadas, conhecimentos foram passados. Mas não só isso. Lições de vida foram aprendidas, amigos foram feitos, laços indeléveis foram formados. Aprendi muito mais do que o que está no currículo. Descobri que tenho muito mais responsabilidades para com o mundo como profissional, como letrado e como pessoa do que eu imaginava. Por isso eu quero agradecer a todos os meus professores, inclusive os ruins, pois esses me ensinaram a dar mais valor a um bom professor, a uma aula bem ministrada (uma lição que não foi completamente aprendida, preguiça e falta de compromisso insistem em atrapalhar esse aprendizado, mas algumas lições levam mais tempo para serem aprendidas). Todos vocês contribuíram para a minha formação de alguma maneira. E não me refiro apenas à minha formação acadêmica e profissional, mas minha formação como pessoa.

Obrigado a todos.

terça-feira, 12 de outubro de 2004

Ser criança

12 de outubro, dia das crianças. Originalmente, nem pensei em escrever algo relacionado à data. Mas minha mente começou a fazer aquelas viagens cujo controle eu não possuo e eu me vi pensando em comemorar a criança que eu mantenho viva dentro de mim. Não, não é aquele discurso ensaiado “todos temos uma criança dentro de nós”, é uma constatação resultante de muita auto-reflexão. A falácia acima citada pode até conter seu quinhão de verdade, porém creio que muitas pessoas deixam sua criança interior morrer, mais cedo ou mais tarde. Eu, apesar de sempre ter me considerado muito maduro e realmente acreditar que o sou, mantenho bem vivo o meu Tiaguinho. Realmente a criança à que me refiro não tem nada a ver com maturidade ou infantilidade, mas sim com uma forma de encarar a vida, uma maneira mais leve de lidar com as pessoas. Salvo raras exceções, crianças são alegres, acreditam que todo dia é uma festa e que tudo vai dar certo. É um otimismo contagiante, uma alegria estimulante, uma energia revigorante. Crianças estão muito mais preocupadas em se divertir do que em arranjar briga com alguém. E, se arranjam, fazem as pazes muito mais facilmente e conhecem pouco ou quase nada de um ingrediente amargo que faz parte da vida de muitos adultos: orgulho. Falsidade é outra capacidade praticamente inexistente nelas, tornando-as muito mais à vontade com seus sentimentos e com os dos outros. Por essas e por outras razões que eu procuro sempre manter a criança que existe em mim sempre viva, com a minha espontaneidade pueril, minha alegria quase que constante e meu desejo de estar sempre “de bem” com todos ao meu redor. Tomara que eu consiga evitar que os problemas do dia-a-dia e os aborrecimentos da vida adulta soterrem a criança que me ajuda a ser mais leve. Parabéns para as crianças de todas as idades.