domingo, 13 de março de 2005

Apenas observando

Ontem eu dei férias à minha mente. Ela, que está tão acostumada a pensar, indagar, se indignar, contentou-se em apenas observar. Observar e admirar. De uma despretensiosa ida à varanda, me vi parado, admirando os passarinhos e beija-flores que bebiam a água adocicada que colocamos todos os dias para eles em bebedouros com flores artificiais. Do silêncio restante que imperava eu só ouvia o canto dos pássaros festejando aquela água tão bem-vinda em tempos tão quentes. Da observação das aves, passei a observar os felinos. Um felino, mais especificamente: Gaspar, o gato mais novo daqui de casa. Ele apareceu no jardim e começou a brincar, sozinho, entre a grama e os arbustos de plantas. Pulava, cavava a grama, se escondia entre os ramos com flores lilases. Resolvi ajudar a natureza brincalhona dele e joguei uma bolinha feita com papel alumínio no meio da grama. Ele pegava a bola, sacudia no ar, jogava com as patas para um lado e para o outro. E aí ele a apanhava com a boca e saía andando calmamente, com os olhos azuis olhando pra mim, e a soltava embaixo do banco de madeira. E recomeçava toda a brincadeira. E eu fiquei ali, olhando e admirando, na mais completa paz interior, sem pensar em nada, até pensar que aquele momento renderia um belo post. Então minha mente voltou a funcionar.

terça-feira, 8 de março de 2005

Mulher

Não sei se a inspiração virá tão grande quanto a importância do dia, mas alguém que se envolve tão profundamente com as mulheres, seja como amigo, filho ou amante, não poderia deixar passar a data sem míseras três linhas que fossem. E antes que algum machista inveterado se ponha a questionar sobre o porquê de esta data ser tão importante se foi algo meramente criado e convencionado e comece a forjar um falso sentimento de injustiça por não existir um dia internacional (ou mesmo nacional) do homem, como, confesso, eu mesmo pensei algumas vezes na minha vida, vou lembrar que basta fazer um exame na história da humanidade, antiga ou recente, para ver que todos os dias são muito mais dos homens do que das mulheres. Houve uma evolução com o passar dos tempos? Houve sim. A discriminação contra as mulheres diminuiu bastante em alguns lugares do mundo. Em outros, nem tanto ou quase nada. Mas qualquer mudança que tenha ocorrido nesse sentido foi por pura luta delas, que se rebelaram contra uma convenção que data dos primórdios da humanidade que prega que as mulheres valem menos do que os homens. Pois bem, hoje estou aqui para dizer o contrário. Não porque eu só pense isso por conta da data, mas porque hoje é o dia perfeito para externar tal pensamento. As mulheres são muito superiores aos homens. São infinitamente mais sensíveis, profundamente mais sensatas, absurdamente mais maduras. Até que me provem o contrário, o amor materno é muito superior ao amor paterno, apesar de, geneticamente, a participação dos pais na constituição dos filhos ser igualitária. Mas, muito provavelmente devido à ligação ímpar que a mãe estabelece com o bebê durante toda a gestação e no ato sublime do nascimento, creio que há um laço entre mãe e filho que vai além, para a inveja de todos os pais. Minha inclusive, pois, espero eu, serei pai um dia. Porém já me preparo para aceitar que o amor que terei pelos meus filhos nunca estará no mesmo patamar do amor da mãe deles. Não digo que os pais não são capazes de amar seus filhos tanto quanto as mães, apenas digo que são amores de naturezas diferentes, porque a própria mãe natureza (e não é por acaso que ela se chama dessa forma) quis assim. Se existem exceções? Claro que existem, em tudo há exceções. Mas ainda bem que elas existem, pois, se não as houvesse, não existiriam homens capazes de ver a beleza superior que é o ser feminino.
Parabéns, mulheres.

sexta-feira, 4 de março de 2005

Aos olhos

Despedi-me mais uma vez. Dei abraços, recebi abraços, dei beijos, recebi outros. De tantas mudanças que já fiz (ou iria fazer) nos últimos anos, minhas despedidas já viraram até motivo de piada. Mas dessa vez foi pra valer. Fui embora de Fortaleza com planos certos para o Rio de Janeiro. Datas estipuladas, computador embrulhado para ser despachado. Dessa vez, eu senti aquele aperto no coração ao me despedir dos amigos. Eu quis trazer amigos comigo para me acompanharem aonde quer que eu vá, sem querer saber dos seus planos, atendendo apenas ao meu desejo egoísta de não me separar deles. Eu quis transmitir todo o meu sentimento em abraços que pudessem dizer o que minha boca não foi capaz de falar. Eu quis declarar amores, pedir desculpas, dizer a importância daquelas pessoas na minha vida. Não consegui. Ainda bem que com os amigos verdadeiros as palavras não são tão necessárias e um abraço, um olho no olho é capaz de dizer quase tudo que sentimos, muitas vezes com uma intensidade muito maior. Com algumas pessoas eu pude sentir meus olhos dizendo “eu te amo” e os delas respondendo “eu sei, eu também”. E agora lá vou eu, rumo à maior mudança da minha vida, procurando novos olhos com os quais eu possa conversar, sabendo que os antigos não perderam sua capacidade sensitiva, muito pelo contrário, ampliaram-na para dar conta da distância que se abre entre nós, sendo capazes de dizer o que sentem sem nem se verem. A todos os amigos, meus olhos mandam beijos já cheios de saudade.