terça-feira, 20 de setembro de 2005

Já vai tarde

Severino Cavalcante vai renunciar ao cargo de presidente da Câmara dos Deputados. Não deveria nem ter chegado ao posto. Quem escarafunchar o histórico de posts vai encontrar um falando da minha revolta quando da eleição de Severino. Agora, após a comprovação da denúncia do “mensalinho”, fica uma lição para todos os eleitores do Brasil: vejam bem em quem votam. Mas não foi o povo brasileiro que colocou o Severino Cavalcante na presidência da Câmara, vocês podem dizer. Mas foi o povo brasileiro que elegeu todos os deputados que prestaram o desserviço de entronizá-lo. Se foi por acreditarem que Severino seria um bom presidente, revelaram a mais plena ignorância e incompetência, pois eu mesmo, do alto do meu parco conhecimento político, já vislumbrava o execrável desempenho que ele apresentaria apenas analisando suas propostas políticas. Se foi por mero capricho para desafiar o governo e fazer a oposição pela oposição, assinaram o atestado de imaturidade política. Já passou da hora de criarmos vergonha na cara e prestarmos mais atenção aos candidatos não apenas na hora de votar, mas também no decorrer do exercício do seu cargo. Já pensei em fazer um levantamento de todos os deputados que votaram no Severino para presidente e que apoiaram o abrandamento das penas dos envolvidos nos escândalos de corrupção (como o próprio Severino fez – óbvio, pois tinha o rabo preso) e publicar uma lista aqui no “Enquanto isso, na Sala de Justiça” para ficar aberta à verificação, ajudando-nos a lembrar quem são aqueles que não merecem um voto para eleição de síndico do prédio que seja. Quando tiver um tempo extra, tentarei pôr em prática meu plano. Também é necessário atentar para uma armadilha que quase me pegou: não há corruptor sem corruptíveis. Ao ver o empresário Sebastião Buani, pivô da crise do “mensalinho”, chorar em seu depoimento e citar as palavras da filha que dizia que eles não precisavam daquilo para viver eu me peguei, por um momento, cheio de piedade e compaixão pelo pobre empresário que foi obrigado a pagar propina ao político inescrupuloso para poder manter seu ganha-pão. Por sorte eu tornei à razão e me lembrei que é inaceitável tal pensamento: se não houvesse quem aceitasse ceder às chantagens dos corruptores não haveria corrupção. Simples assim. Mas parece que tudo ficou permitido no país da corda-bamba. Esse é o perigo: quando a sociedade passa a abrir mão de princípios éticos e afrouxa o limite do moralmente correto, a permissividade começa um processo de erosão das instituições e das relações que deveriam pautar a conduta da vida social. Basta! Chega! Se fôssemos um país verdadeiramente sério, a sociedade civil se organizaria e pararia todas as suas atividades para exigir a execração política de todos os envolvidos nos escândalos de corrupção, pois é o povo que faz a política e seu país, e não o contrário. Mas esse é um caminho muito longo na estrada da civilidade e o povo brasileiro ainda está engatinhando nesse processo.

quarta-feira, 7 de setembro de 2005

Luz

O dia foi cansativo. Metrô, aula pela manhã, aula à tarde, ônibus. 10 horas fora de casa. Mas há algo que eu não me canso de fazer neste dia, todos os anos. Aliás, são várias coisas: dar parabéns, elogiar, agradecer, comemorar, celebrar, festejar. Não há dia que eu ache mais digno de comemoração do que este, nem mesmo o dia do meu aniversário. Se não fosse por este dia, eu não teria nascido, logo não teria aniversário para comemorar. Se não fosse por este dia, eu não seria quem sou hoje, não teria os valores que tenho, não pensaria como penso, não encararia a vida como encaro, não veria as pessoas como vejo, e, aí, não sei se eu teria muito o que comemorar no meu aniversário. Se não fosse por este dia o mundo seria um lugar bem diferente de se viver, e isso não é exagero. Eu realmente acredito que há pessoas que são tão únicas e especiais que fariam uma falta incrível se não existissem. Sua ausência criaria todo um desequilíbrio nas forças e energias que compõem este mundo de forma impressionante. Há, sim, pessoas que fazem a diferença. Pessoas que podem até não fazer parte da história da humanidade, mas que são parte fundamental da história das pessoas que convivem com elas. Pessoas que não são capazes de, sozinhas, mudar todo mundo, mas podem mudar o mundo e as pessoas ao seu redor, dando início a uma mudança muito maior. Enfim, há pessoas iluminadas. Não falo de luz visível, mas de luz que se sente, que se absorve. Luz que sentimos com o coração, com a alma. Luz que não brilha, mas que nos aquece por dentro. E foi neste dia que nasceu uma pessoa assim, iluminada, que me preenche, que me completa, que me fez. Hoje é o aniversário da minha mãe. Que a infinita luz que ela irradia sem ver todos os dias volte, uma fração que seja, para si mesma hoje e sempre, pois uma minúscula parte do que ela transmite já é bálsamo para qualquer mortal que não tem a capacidade de ser alguém tão formidavelmente especial como ela é.
Beijos do filho que te ama mais do que a si mesmo.