quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Nossa língua portuguesa

Cansado de ouvir as pessoas dizendo despautérios do tipo: “Eu, literalmente, fui comprar pão”? Ou “Literalmente eu gostei do filme”? Pois os seus problemas acabaram!! Aqui vai uma aulinha básica com o professor Pasquale sobre como usar o advérbio “literalmente”.

- Professor Pasquale, quando podemos usar a expressão “literalmente” numa frase?
- É muito simples: se um avião que estava levando um carregamento de canivetes suíços explodir no ar e a carga começar a cair do céu, você pode dizer: “Está chovendo canivetes, literalmente!”. Outro exemplo: você vem andando, carregando dois burros pelos arreios. De repente, você, sem perceber um buraco cheio d’água na sua frente, cai lá dentro com os burros. Então podemos dizer que você, literalmente, deu com os burros n’água. Mais um exemplo: você está passeando em uma marcenaria (simplesmente pela diversão interminável que um passeio desses apresenta) e vira num corredor sem olhar o que tem à sua frente. Assim que você dobra, há uma porta no meio do corredor e você dá um encontrão nela. Aí diz-se que você, literalmente, deu com a cara na porta. Para não restar dúvida: você está dormindo e começa a sonhar que está numa festa com a Ivete Sangalo, cheirando o cangote dela, abraçado com ela, enfim, se dando bem! Na empolgação do sonho, você começa a se mexer e cai da cama. Ao atingir o chão, você olha para o despertador e vê que são 5:30 h. Nesse caso, você diz que, literalmente, caiu da cama cedo.

* Moral da história: pessoas, só se usa o advérbio “literalmente” quando estamos nos referindo a alguma expressão que pode ser usada (e geralmente é) com sentido figurado, diferente do real sentido que as exatas palavras significam. Ou seja, só podemos usar “literalmente” quando estivermos nos referindo a uma expressão que tenha um sentido não literal (faz sentido, não é?).

PS: não, o professor Pasquale não deu nenhuma entrevista ao “Enquanto isso, na Sala de Justiça”. Caso não tenha ficado claro, isso foi uma brincadeira para mostrar, de maneira irônica, que as pessoas usam a expressão “literalmente” a torto e a direito sem a menor noção de quando ela cabe ou não.

quinta-feira, 10 de novembro de 2005

E Deus criou o homem...

Salvo engano, há um assunto delicado que nunca adentrou a “Sala de Justiça”: religião. Embora eu tenha sido criado em meio ao catolicismo (minhas avós e minha mãe são bastante católicas), tenha estudado em um colégio católico (só pelo nome dá para sentir o drama: Christus) e tenha me crismado (que significa confirmar o seu batismo e sua fé), eu deixei de me classificar como um católico apostólico romano (sempre achei o máximo esse mega-nome) há um tempo. Tenho minha crença particular, creio num ser maior (Deus mesmo), até porque acho que fica bem mais difícil passar pela vida sem crer em algo além do material e do visível, sem ter uma fé que traga mais esperança a esse mundo, mas não consigo mais acreditar em uma religião institucionalizada, principalmente porque as religiões desse tipo pregam privações e culpas que me parecem deixar o ser humano mais miserável do que emancipado ou iluminado. Creio numa fé que valorize os homens e suas relações, que pregue a humanidade, o respeito, que ressalte a divindade que há em cada ser humano. Embora eu não me diga mais católico, há um mandamento em especial que eu gosto muito e acho que é essencial para o convívio humano: amai ao próximo como a ti mesmo. Mas eu comecei toda essa divagação religiosa para comentar algo que acabei de ver no telejornal: o estado do Kansas, nos Estados Unidos, permitiu que o criacionismo seja ensinado nas escolas em contraposição ao evolucionismo. Por pressão dos conservadores republicanos (nota: se eu morasse nos Estados Unidos, eu seria democrata com certeza), as escolas terão que ensinar essa “teoria” que prega que o ser humano surgiu na face da Terra por obra e graça divina. É por atitudes como essa que eu repudio religiões institucionalizadas. É absurdo que a religião queira influenciar o ensino da ciência. Querer ensinar nas escolas que o homem não é resultado da evolução, teoria que já está mais do que comprovada, e sim de puro ato divino é uma intromissão e uma distorção do papel da religião inimaginável para mim. Quando a religião tenta se impor sobre todas as verdades, inclusive sobre as daqueles que não compartilham da mesma fé, ela perde todo o meu respeito.