sexta-feira, 17 de março de 2006

Carioca way of life

Clichê super-ultra-over-mega batido (sim, eu sei que todo clichê é batido, mas eu quis ser redundante mesmo, dá licença?): o tempo passa muito rápido! Hoje faz um ano que cheguei ao Rio de Janeiro. A mudança mais drástica que já aconteceu na minha vida (espacialmente falando, pois, em se tratando de questões psicológicas e emocionais, a mudança dos meus pais para João Pessoa foi bem mais signifcativa) completa um ano. E para não tornar este post algo muito introspectivo e cheio de questionamentos existenciais, resolvi unir a data especial com uma idéia que eu venho tendo há algum tempo e fazer um tratado das minhas observações sócio-antropológicas sobre as diferenças culturais entre cariocas e cearenses e paraibanos (aos novos convivas virtuais: eu sou cearense e morei em João Pessoa, aonde vou com certa freqüência visitar um pessoal que eu costumo chamar de família). Aos cariocas que possam ler minhas singelas observações quero adiantar que elas não possuem caráter crítico ou de desdém, simplesmente refletem a diferença observada por um agente externo que veio parar na cidade maravilhosa. Sem mais delongas, vamos aos pontos:
- O primeiro hábito carioca que me chamou atenção foi o de levar crianças já crescidas em carrinhos de bebê. É comum e corriqueiro: você vem andando pela calçada e de lá desponta uma mãe, um pai, uma babá ou uma avó empurrando uma criança que já aprendeu a andar há um bom tempo num carrinho de bebê. A explicação? Ela me falta. Talvez as crianças daqui sejam mais encapetadas do que as da banda nordeste do Brasil e socá-las dentro de um carrinho é a maneira encontrada pelos pais cariocas de controlar melhor as pestinhas. Só sei que é um hábito bem diferente do que estou acostumado.
- Qual é a bebida que não pode faltar em nenhum estabelecimento carioca? Acertou quem chutou Matte. Os moradores da capital fluminense são loucos por essa bebida que eu já conhecia, mas nunca tinha visto alguém tomar com tanta freqüência lá nas minhas origens. Mas um copo de Matte bem feito, como o que mamãe fazia quando estava aqui, com gelo e limão batidos no liquidificador, é bom mesmo!
- Sabem aquele negócio genericamente chamado de peta aí no Ceará e que se compra em qualquer supermercado, birosca ou cantina de faculdade (era o sucesso da cantina do prédio da Comunicação Social da UFC)? Aqui no Rio ela tem marca e lugar certo para ser comprada e comida. Faz pouco tempo que provei o famoso biscoito Globo de que eu tanto já tinha ouvido falar. É um biscoito de polvilho (ou seja, peta) vendido nas praias cariocas por ambulantes que passam anunciando “Biscoito ‘Grobo’!!” (ambulante que se preze tem que trocar o L pelo R) e é pedida obrigatória do bom carioca que vai à praia no fim de semana.
- Falando em praia, esse é outro fenômeno daqui. Olhem que eu já morei em duas capitais nordestinas que são procuradas por turistas justamente por causa de suas praias, mas nunca vi uma vontade de ir à praia como vejo por aqui. É impressionante! Na quarta-feira você já ouve as pessoas comentando sobre a praia que querem pegar no fim de semana. E, num fim de semana de sol, é batata: praia lotada!! Mas é absurdamente lotada, tipo “mó xêi de gente”, “crowdiado” mesmo, entupigaitado (já chega ou ainda não consegui passar a idéia de quão lotada a praia fica?)!! Mas eu já tenho o teoria do porquê dessa corrida à praia num fim de semana de sol que foi prontamente ratificada pelo meu irmão: é porque aqui é muito difícil haver um fim de semana de sol! Pessoal, é uma coisa absurda: o sol torra o nosso juízo de segunda a quinta; quando chega a sexta, o tempo já fica meio nublado; sábado e domingo, aí é nuvem na certa, quem sabe até com uma boa chuva para acompanhar. E, na segunda-feira, o sol volta com tudo! Fora que é na praia que o carioca põe em prática as duas últimas manias acima citadas, tomar Matte e comer biscoito “Grobo”!
- Ainda na categoria clima, é incrível como muitos cariocas sacam seus moletons e casacos do armário ao primeiro sinal de chuva! Meu irmão comentou sobre isso assim que cheguei ao Rio, mas eu não imaginava que fosse algo tão perceptível. Caiu uma gotinha d’água de manhã? Pode se preparar para ver alguém com moletom a tira-colo no decorrer do dia, quando não vestido. E isso mesmo sendo uma chuva de verão, aquela acompanhada de calor antes, durante e depois!
- Se você for convidado para um churrasco ou algum outro compromisso social enquanto estiver no Rio e resolver honrar a sua pontualidade britânica, prepare-se para não encontrar nenhum convidado ao chegar ao evento. Aqui é de praxe as pessoas atrasarem 2, 3 horas. Então fica o aviso: se passar pelo Rio, for convidado a alguma festa e quiser chegar adiantado, 1 hora de atraso é o mínimo recomendado.
- Eu disse que não haveria conteúdo crítico nas minhas observações, mas há um pouco de crítica nesses dois últimos quesitos. Contudo quero deixar claro que são críticas pelo fato em si, e não porque se referem aos cariocas em particular. São atos não bacanas em qualquer pessoa, de onde quer que ela seja. O primeiro é a mania de chamar todo nordestino de Paraíba (como se o Nordeste fosse composto de um único estado) e achar que as pessoas de todo o Nordeste possuem o mesmo sotaque. Quanto ao sotaque, acho que devemos dar um desconto pela maléfica influência das novelas da Globo que são ambientadas no Nordeste. Fortaleza, interior do Ceará, Bahia, Pernambuco, não importa: se a novela for ambientada no Nordeste, os personagens falarão com aquele sotaque pasteurizado que é uma mistura do sotaque baiano com o pernambucano, resvalando no carioquês. Fica aqui a lição: nem todos os estados do Nordeste possuem o mesmo sotaque!
- A segunda crítica vai para o péssimo atendimento dos prestadores de serviço cariocas, de todos os ramos. Quando aqui cheguei eu já ouvia meu irmão e os amigos dele que também não são cariocas reclamando do “padrão Rio de atendimento”. E é verdade! Para vocês não pensarem que é perseguição da minha parte, houve até uma discussão sobre isso na FGV entre o professor e os alunos que haviam chegado mais cedo, todos falando (inclusive o professor, que é do Rio) da péssima qualidade do atendimento dos serviços cariocas. Jonas e eu até criamos um código: esticamos o braço com a mão espalmada para a frente e movemos o braço em círculos. Isso simboliza nós esfregando o dinheiro na cara das empresas e elas perdendo o cliente por não saberem atender.

Além de todas essas observações sócio-antropológicas, quero dizer que estou muito satisfeito com esse meu um ano de Rio de Janeiro: a cidade é mesmo linda, eu fui muito bem recebido até agora e conheci várias pessoas maravilhosas que já figuram no meu rol de amigos inesquecíveis!

segunda-feira, 13 de março de 2006

Sem noção gramatical

Eu acho que noção deveria ser vendida em supermercado ou em padaria. A pessoa chegaria lá e pediria: “Me vê trezentos gramas de noção”, ou “Eu queria meio quilo de noção, mas cortado bem fininho”. O problema seria dimensionar os estoques para atender a todos, porque existe um pessoal que iria precisar comprar no atacado. Assim, coisa de tonelada! Sábado eu fui buscar o encarte do meu CD do The Gift com o Vinícius, um amigo que fiz na comunidade da banda no Orkut. Ele estava trabalhando numa exposição sobre música eletrônica que acontecia no Centro Cultural Telemar, próximo ao largo do Machado. Já que eu fui até lá, aproveitei para dar uma conferida na exposição. Enquanto eu esperava meu iPod (chique, bem!!) para ouvir os diferentes tipos de ritmos e batidas, fiquei lendo os textos explicando cada variação da música eletrônica. Sabem aqueles textos formados por letras adesivadas nas paredes da sala de exposição? Pois é. Logo no primeiro texto, percebi que alguém havia riscado com caneta um acento indicativo de crase de uma frase: “... que deu início À cultura dos clubes...”. Eu fiquei duplamente horrorizado: em primeiro lugar, porque corrigiram algo que não estava errado (como “dar início” pede a preposição a – se dá início A algo – e cultura é uma palavra feminina que aceita o artigo a, ocorre a crase – fusão das duas letras – e o seu acento indicativo é obrigatório) e, em segundo, porque riscaram a parede de uma exposição. Até aí eu consegui segurar a minha ânsia de pretenso professor de português e perfeccionista e segui lendo os outros textos. Quando eu estava ocupado na minha leitura, percebi uma senhora mais à frente sacando uma caneta e riscando a parede! Descobri!! Foi ela!! Obviamente, esperei que a dita madame saísse para ir ver qual teria sido a nova “correção”. Outro choque: ela colocou um acento agudo em “ritmo”. Para quem ficou perdido e não imagina onde caberia um acento agudo nessa palavra, foi no “i” mesmo que ela tascou o acento. Aí foi demais para mim! Voltei ao balcão de entrada para saber se aquela senhora fazia parte da organização da exposição, mas, ao lá chegar, o Vinícius e o restante do pessoal já estava comentando sobre a psicopata da caneta. Ou seja, não só ela estava fazendo correções que não existiam nos textos, como também se achou no direito de puxar uma caneta e riscar as instalações de uma exposição sem pedir licença. Se ela fizesse parte da produção, eu iria, educadamente, dizer que ela estava corrigindo os textos de maneira errada. Como eu descobri que se tratava de uma véa doida e sem noção, aproveitei para malhá-la juntamente com o pessoal do evento. Mas não parou por aí! Em meio à nossa discreta execração da professora de português do Mobral frustrada, descobri que ela tinha corrigido mais coisas do outro lado da parede, na parte de fora da sala de exposição. De fato, a senhora tinha algo contra acentos de crase no lugar certo. Ela cortou o acento de “... cresci assistindo À evolução dos videogames...”. Tudo bem que o verbo assistir pode ser transitivo direto, mas apenas quando significa prestar assistência, e, no caso, estava claro que significava ver, testemunhar, o que o torna transitivo indireto, pedindo a preposição a. Mais abaixo no mesmo texto, nossa futura escritora de gramáticas deixou passar um erro que o Vinícius já tinha percebido: “... cada movimento implicava em um resultado sonoro...”. Implicar é transitivo direto: uma coisa implica outra, não em outra. Ironicamente, se fosse uma prova, a autoproclamada professora de português tiraria nota zero: 4 erros em 4 questões

sexta-feira, 3 de março de 2006

Varrendo as cinzas

Fechando a conta e passando a régua, vejamos o que sobrou do carnaval. No sábado, fui ao Cordão da Bola Preta com meu irmão. Lá (no centro da cidade) encontramos vários amigos cearenses extraviados no carnaval carioca, incluindo a Lana, que é cearense, mas trabalha e mora aqui no Rio. Aliás, uma das cenas mais impagáveis do carnaval aconteceu com o marido dela, o Arnaldo. Estávamos nós em plena Avenida Rio Branco após a passagem do bloco (comentário do momento: só no carnaval mesmo para conseguirmos ficar parados no meio da Rio Branco sem sermos atropelados 983 vezes) quando chega uma figura obesa, tipo rolha de poço, vestindo apenas uma sainha plissada (olha só, esse conhecimento todo de modelos de vestuário se deve ao fato de eu ter sido criado por uma mãe costureira, dona de confecção, dá um desconto aí, vai) e diz pro Arnaldo, apontando uma lata daqueles sprays de espuma: “Se não pegar na minha bunda tá ...odido!” Assim, analisando friamente através das minhas palavras, pode parecer que foi uma cantada de teor homossexual chula e de mau-gosto, mas quem estava lá viu que foi uma inocente brincadeira de carnaval, até porque a Lana tava do lado dele e eu também. Só sei que a Lana e eu nos acabamos de rir! Sim, aos curiosos de plantão, não, o Arnaldo não passou a mão na bunda dele e levou uma “sprayada” de espuma. Ah! Faltou comentar que, assim que chegamos no centro e estávamos procurando o Jesus (não, eu não errei o caminho da Igreja Evangélica, o Jesus é um amigo de Jonas que tem esse apelido por ter adotado o visual barba e cabelo grande), um vendedor de cerveja disse que eu parecia o Dandan do Big Brother (é, eu também não entendi)! Depois de muitas marchinhas, voltamos para casa para nos despedirmos de Carolina, a itinerante. No domingo, foi aquela história toda do Bloco do Sinal que eu não vou repetir, né! Na segunda, fui ao Carioca da Gema com um pessoal da FGV. Lá, marchinhas e sambas até o pescoço. E aqui vem o grande comentário do post: que me desculpem Max Nunes e Laércio Alves, mas “Banderia branca, amor, não posso mais” pode ser uma das marchinhas de carnaval mais conhecidas de todos os tempos, mas é pra acabar com qualquer carnaval! Sabe aquela música que eu gosto de chamar “corta os pulsos”? Bandeira branca na cabeça!! E pra não dizer que é implicância minha com a pobre da música, adiciono aqui a famosa “Pastorinhas”, de ninguém menos do que Noel Rosa e João de Barro. Mas vamos combinar! Quando começa “A estrela d’alva no céu desponta” dá vontade de recolher os brinquedos e voltar pra casa! No dito Cordão da Bola Preta começaram a tocar Pastorinhas e eu disse pra Jonas: “Se tocarem Bandeira branca, eu vou embora!” Pra queimar minha língua, qual foi a música seguinte? Bandeira branca. E eu não fui embora. Ô homem sem palavra!