sábado, 15 de abril de 2006

Politicamente (in)correto

Vocês se lembram do tempo em que o politicamente correto não imperava? Eu me lembro. Aliás, acho que a minha geração foi, justamente, a que pegou a transição da “anarquia de declarações e opiniões” para os “comentários politicamente corretos”. Não me entendam mal, não sou totalmente contra essa onda de levar em conta TODAS as minorias, todas as pessoas, todos os sentimentos envolvidos ao se tecer um comentário, ao se escrever um livro, ao se realizar um filme, enfim, ao se expressar de qualquer forma, artisticamente ou não (mas o que seria se expressar artisticamente? E o que não seria? E o que é arte?? Xiii!!! Isso é muito complexo! É assunto para outro post – ou vários outros). Mas vocês não acham que muitas coisas eram bem mais engraçadas no tempo em que se podia ser politicamente incorreto? Tanto que, atualmente, o que consideramos engraçado é justamente o que rompe com o que é socialmente aceito de se dizer. South Park é um exemplo. Tudo bem, vocês têm todo o direito de não gostar de South Park, eu até conheço pessoas que, inacreditavelmente, não gostam desse desenho. Mas a grande graça da animação em questão são suas piadas politicamente incorretas. Algo muito divertido que foi tirado do ar pela onda do politicamente correto (e, nesse caso, literalmente político) foi o quadro da Sabrina Sato do Pânico na TV. O Ministério Público alterou o horário do programa e fez com que tirassem do ar o quadro “Lingeries em perigo”, que eu considerava muito engraçado (algumas vezes bem mais do que outras), porque ele apresentava cenas com mulheres semi-nuas (o quê?! Alguém ousou colocar mulheres semi-nuas na TV brasileira?! Que absurdo!!), simulações de mortes e outras coisas. Muito provavelmente, Sabrina e companhia também desfilavam de lingerie para ajudar a aumentar a audiência do programa às custas dos tarados de plantão, mas a grande sacada do quadro era justamente porque ele era uma crítica aos desfiles de lingerie de outros programas (da Luciana Gimenez inclusive, que é da mesma emissora do Pânico na TV), colocando mulheres de lingerie para fazer coisas nada a ver, pondo às claras que a exibição das buzanfas e peitanças era completamente apelativa. E implicar com as mortes da Marlene (a melhor do quadro, na minha humilde opinião) é como dizer que cenas em que os desenhos animados (os do meu tempo, que eram bons de verdade, não essa ruma de desenhos japoneses pasteurizados) jogam bigornas nas cabeças uns dos outros estimulam a violência nas crianças. Cresci assistindo a esses desenhos e nunca senti um desejo de jogar uma bigorna na cabeça de ninguém (pra falar a verdade, nunca nem vi uma bigorna). As mortes da Marlene, que eram uma idéia obviamente copiada das recorrentes mortes do personagem Kenny do supracitado South Park (ei, supracitado ficou bonito, não ficou?), eram um fechamento para o quadro no melhor estilo “filme trash classe B escorregando para Z”. A mulher foi morta por um coelho, um pato, uma chinchila. Ou seja, bichos completamente inofensivos. Tudo bem, ela também foi atropelada, queimada, esmagada por um motoqueiro que tinha, no mínimo, 180 kg e por um elevador de carro de oficina mecânica. Mas mesmo essas mortes mais elaboradas e passíveis de acontecer a qualquer ser humano (pensando se é possível uma pessoa morrer esmagada por um motoqueiro...) mantinham a estética classe B, com excesso de sangue cenográfico na cor groselha. “Mas isso pode mesmo impressionar criancinhas inocentes que assistem ao programa”, podem dizer alguns. Tenho minhas dúvidas. Em primeiro lugar, porque acho que não existem mais criancinhas inocentes hoje em dia. Acho um tanto impossível falar de inocência em tempos em que vemos meninas de 7 anos de idade desfilando com um shortinho da Carla Perez, um tamanquinho da Sheila, da Xuxa, da Sasha, da Sandy ou de qualquer outra e batom vermelho atochado nos beiços. Pra piorar a situação, ainda existem quadros como o “Talento mirim” (acho que é esse o nome, não tenho certeza porque nunca agüento assistir mais do que 30 segundos) do programa do Raul Gil, que fazem crianças cantarem e dançarem de forma extremamente erotizada. Aliás, eu acho que esse processo começou com “Qui cocê foi fazê no matu, Maria Chiquinha”, com os ainda infantes Sandy e Júnior. Todo mundo achava uma graça os dois cantando aquela musiquinha (e de fato era), mas vocês se lembram do fim da singela canção? Simplesmente o Genaro (eu-lírico do Júnior na dita cantiga) dizia que iria cortar a cabeça da Maria Chiquinha, mas que o resto do corpo ele iria aproveitar. O QUE É ISSO??? Uma forte conotação sexual, isso é o que é! Sempre me choquei com essa questão, mas nunca ouvi ninguém compartilhando dessa minha angústia. Enfim, se os tais quadros do Pânico na TV podem ou não afetar as crianças não tão inocentes de hoje, eu não sei. Só sei que havia muito mais graça na TV antigamente.

quarta-feira, 5 de abril de 2006

Caixinha de ilusões

Sabem aquela história de quem não quer admitir que estava assistindo a um certo programa na TV e manda um: “eu estava zapeando (ou sapeando, como neologizou o mestre da comunicação Sílvio Santos – tudo bem, ele pode) e vi no programa do Ratinho (peguei pesado também)...”? Comigo é verdade. Quando estou procurando algo para assistir nos meus momentos de descanso (geralmente, no fim da noite) eu vou mudando os canais e, às vezes, paro em algum programa de que não gosto. “Como assim?”, vocês podem se perguntar. Se eu não gosto do programa, por que deixo a TV sintonizada nele? Justamente para confirmar o porquê de eu não gostar. Sou da opinião que você deve assistir partes (por favor, só partes) de um programa de que você não goste para poder dizer por que você não gosta. Aliás, é um princípio para qualquer coisa na vida: pessoas, lugares, comidas, músicas. Você deve dar uma chance a algo antes de sair dizendo que não presta. É seguindo esse princípio que eu paro para assistir uns 5 minutos (no máximo) dos Superpops da vida, dos Shows do Tom (ressalva: havia algo que valia a pena no programa do Tom Cavalcante, o Big Brega Brasil, uma sátira ao Big Brother que foi ar concomitantemente ao programa da Globo e possuía momentos engrançadíssimos graças aos talentos humorísticos de Tiririca e Shaolim), dos Sabadaços. O único programa que não merece essa segunda (ou terceira, ou quarta, ou quinta...) chance é o Domingo Legal. Gugu é uma das criaturas mais abomináveis da televisão brasileira e deveria ser execrado, banido, exilado, deportado. E foi seguindo esse princípio que eu confirmei o porquê de eu não gostar mais do Saia Justa, programa do GNT, desde que ele foi reformulado e saíram Marisa Orth (a melhor do programa), Marina Lima (nem boa, nem ruim, apenas cumpria seu papel de ocupar o espaço deixado por Rita Lee, que apimentava o programa com sua irreverência e atitude roqueira) e Fernanda Young (apesar de sua rebeldia sem causa, eu gostava dela) e entraram Luana Piovani, Bety Lago e Márcia Tiburi, permanecendo apenas a sempre competente Mônica Waldvogel. De compromisso certo às quartas o programa passou a ser digno apenas das minhas passadelas de controle remoto em mão. Semana passada peguei uma discussão já engatada pelas apresentadoras sobre ser ou não ser gordo, eis a questão. Começaram com a constatação politicamente correta e óbvia de que é errado fazer piadas e comentários jocosos sobre gordos, mas que todos nós fazemos. Até aí tudo bem. É óbvio, mas é sempre bom ver as pessoas praticando a sinceridade em cadeia nacional. O problema foi quando a “filósofa” (ela é formada em Filosofia mesmo, coloquei entre aspas porque, pra mim, a filosofia dela é uma negação) Márcia Tiburi veio com sua tese de que ser gordo tem a ver com ter mais espaço, logo ter mais poder, e por isso muitas mulheres de classes baixas são gordas, para poderem ter mais espaço na sociedade. Aí não deu! Mudei de canal com a convicção de que vai demorar um bocado para eu dar outra chance ao programa.