sábado, 23 de setembro de 2006

Conferência de paz

Mané Iraque, Israel ou Afeganistão. A ONU tem que se mobilizar para cuidar da paz mundial em um lugar muito mais comum: o supermercado. Hoje eu quase testemunhei duas senhoras (atenção para os acessórios que acompanham o termo “senhora”: óculos de grau na ponta do nariz, cabelo preso num “coque” e pés de galinha) se digladiando no setor de produtos de higiene. Foi um tal de “dá pra senhora tirar o carrinho do meio pra gente passar?” e um “não tá vendo que tá cheio de carrinho no corredor?” seguido de um “mas se a senhora afastar o seu pra lá dá pra gente passar!” que antecedeu um “agora, sim, dá pra gente passar, mas do jeito que a senhora tava” depois que a tal do carrinho afastou o dito cujo, tudo isso finalizado por um “não vou nem responder” da dona do apetrecho com rodas. Fiquei só esperando a platéia do Ratinho gritando: “POR-RA-DA!!! POR-RA-DA!!!” E, com certeza, isso acontece a toda hora, em todos os supermercados. Quer dizer, pelo menos nos freqüentados por pessoas menos civilizadas. E todo mundo se preocupando se Mahmoud Ahmadinejad está ou não desenvolvendo armas nucleares. Abre o olho, Kofi Annan, que os supermercados são bombas-relógio prontas para estourar!

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Lástimas da vida

Não bastasse não acontecer nada que se aproveite capítulo após capítulo, a novela das oito agora está conseguindo prestar um desserviço à população. No marasmático capítulo de ontem, Diogo esperava por Helena no seu quarto de hotel. Tudo muito chique, muito arrumado, champanhe no gelo, mesa bem decorada. Digressão: aliás, eu sempre me perguntei o que diabos a Globo faz com aquele mundaréu de comida das cenas de “família à mesa”. Sim, porque as mesas de novela são sempre aquele banquete com 52 tipos de pães, 37 diferentes bolos, 625 frutas, 28 sucos (incluindo o raro e regional suco de pitomba – essa foi pra você, Lucy). E ninguém nunca come nada. Neguinho dá uma dentada num pão, bebe 2 dedos do suco e rapa fora. E eu penso: e essa comida toda, vai pra onde? Ou o pessoal da produção da Globo é extremamente obeso, se fartando com o refugo de cena de café da manhã, ou eles fazem muita caridade, ou, simplesmente, “instroem” muita comida mesmo. Voltando: Em mais uma cena sem necessidade, Diogo “enxuga” um copo de uísque e vai ao banheiro. Para quê? Para escovar os dentes, ora essa! O cara passou anos na África, só na base do cartãozinho postal. Agora ele está finalmente de volta para ter um enlace amoroso (isso foi pra não dizer “dar uns pegas”) com a Helena. Claro que ele tem que cuidar do bafex! Aquela boca mole de chupar caroço de manga finalmente vai entrar em ação, logo ele tem que manter a assepsia da miserável. Até aí, tudo bem. Demonstração de bons hábitos de higiene. O problema é que ele deixou a torneira aberta, jorrando água, enquanto escovava os dentes. Antes que vocês achem que eu estou implicando gratuitamente, pensem comigo: todo mundo sabe que é contra os princípios básicos da boa civilidade e da consciência ecológica ficar “instruindo” água desse jeito, mas todo mundo sabe que muita gente contraria essa regra básica. Aí um Zé Mané qualquer que costuma fazer isso vê um negócio desses na novela e diz: “Olha aí, até na novela eles fazem!” E um médico!! Uma pessoa supostamente esclarecida! E um médico humanitário, que largou tudo para cuidar das crianças africanas, ou seja, alguém que deveria ter toda uma consciência a respeito de conservar os recursos naturais. Foi uma cena sem importância (aliás, como todas as outras dessa novela), mas eu fiquei revoltado com isso! Greenpeace, autua a Globo!!!

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Eu por mim mesmo

Complexo, mas fácil de se entender. Romântico incurável, daqueles que gostam de mandar flores e mensagens de texto pelo celular (e viva a tecnologia) só para dizer que se lembrou da outra pessoa. Responsável e, ao mesmo tempo, um procrastinador patológico, embora esteja trabalhando nessa questão para superar tal deficiência. Detentor de algumas manias singulares, como não gostar de parar uma música no meio, detestar ver uma sandália ou um sapato emborcados, gostar de levantar da cama com o pé direito (mais por mania mesmo do que por superstição), esperar por horas redondas para começar a fazer qualquer atividade. Alucinado por música, embora possua um gosto de um ecletismo limitado (pagode romântico, sertanejo, forró com letras de gosto duvidoso e heavy metal podem passar longe). Durmo todas as noites ao som de algum dos meus CDs de estimação. Falando em CDs, possuo com eles a mesma relação que tenho com DVDs e livros, uma relação quase carnal, afetiva e, por que não dizer, sexual; por isso nunca comprei um CD ou DVD pirata na vida (mas acho que os preços dos originais são muito salgados, por isso escolho muito bem o que compro). Leitor de quadrinhos aficcionado que fica extremamente fulo da vida quando alguma alma sem esclarecimento diz que “isso é coisa de criança”. Nojos declarados: pêlos no sabonete (mesmo que sejam meus); comida misturada (tipo lavagem de porco, em que não conseguimos distinguir uma coisa de outra); privada suja com aquela água amarelada (blergh!) – aliás, banheiro sujo em geral; rio, lagoa, açude ou qualquer outro ambiente aquático com areia cheia de lodo no fundo. Detesto saber que alguém está me esperando, fico louco quando isso acontece, tanto que prefiro esperar os outros a ser esperado, mas isso não é desculpa para me deixar plantado esperando. Só faço o que quero, mesmo que o que eu queira seja agradar a algum amigo ou fazer algo por alguém que mereça minha consideração. Crítico e extremamente flexível ao mesmo tempo. Alguém fácil de se levar. Acredito que as pessoas podem mudar, mas se elas mesmas quiserem, nunca por pressão externa, e por isso creio em segundas, terceiras, quartas chances, mas também acredito em últimas chances. Insisto em querer carregar as dores do mundo nas costas e querer resolver todos os problemas da humanidade: a corrupção, o efeito estufa, a fome, a miséria, o desemprego, o lixo nas ruas e nas praias. Tão preocupado com o que será do nosso país que já me passou pela cabeça a loucura de virar político para tentar resolver pelo menos parte desses problemas. Comida tem que ser quente, bebida tem que ser gelada, exceto leite. Gostos próprios: suco, sorvete e picolé de cupuaçu, pimentão verde cru com sal, chocolate branco, lasanha, pizzas e outras massas, torta de morango, quindim, bolos e tortas de chocolate ou doce de leite (mas nada de glacê e aquelas coberturas enjoativas que só têm gosto de clara de ovo batida com açúcar). Abomino rebeldia sem causa e atitude rocker revoltadinha (aquela de quem gosta de qualquer música em que os instrumentos musicais fazem mais barulho do que qualquer outra coisa e o vocalista está sempre se esgoelando, mas é legal porque os outros músicos são muito “comerciais”). Fã de seriados americanos, mas só dos bons (e quem decide o que é bom? Eu, ora bolas!). Fã de cinema, embora não vá tanto quanto eu gostaria, culpa do meu lado co-dependente (mas eu vou me emancipar e ser uma pessoa capaz de fazer coisas sozinho). Gosto tanto de bobagens apenas para divertir quanto de filmes feitos de boas atuações e belos diálogos. Acreditem, assisti a um filme iraniano na faculdade e achei muito bom. Mas detesto quem faz o tipo “só gosto de cinema europeu”. Não fumo, quase não bebo e não uso drogas (yes, eu sou saudável). Adquiri o bom hábito de gostar de verdura, chego a salivar perante uma bela salada. Caseiro, mas gosto de sair de vez em quando e passar uma noite inteira dançando (Mucuripe Club que o diga, que me viu saindo de lá às 7 da manhã). Coisas por realizar: aprender espanhol, aprender italiano, conhecer a Europa, conhecer Nova York, conhecer a Chapada Diamantina – coloquemos um genérico “viajar”, mergulhar, saltar de pára-quedas, plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Esse sou eu, uma obra em andamento.

PS: esse post foi um oferecimento do Flows Inc. e sua sócia majoritária, Lucy Andrade, que iniciou a corrente da auto-análise blogueira.

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

Minha heroína

Desde pequenos nós procuramos por heróis. Normalmente, na infância, eles vêm na forma de super-heróis de histórias em quadrinhos. Aqueles personagens com seus superpoderes que são capazes de grandes sacrifícios para ajudar os outros acabam virando objeto de admiração. Eles poderiam continuar levando suas vidas, usando seus poderes apenas em benefício próprio, como se valer da superforça para abrir um vidro de azeitonas facilmente ou levantar o sofá para varrer a poeira debaixo dele sem grande esforço, mas não, eles escolhem usar suas habilidades em favor dos mais fracos e desprotegidos. Além de invejar seus poderes, que viriam bem a calhar em vários momentos, é impossível não admirar alguém assim, capaz de tamanho gesto de solidariedade, de desprendimento, de humanidade. Conforme crescemos, os nossos referenciais vão se modificando e passamos a procurar heróis mais palpáveis, presentes em nossa realidade. Acho que é da natureza humana ter alguém em quem se espelhar, ter um modelo a seguir, alguém em quem confiar. Ao longo da História, várias pessoas com essa capacidade de atrair para si respeito e veneração marcaram seu nome como grandes líderes, como Martin Luther King e Gandhi. Contudo, nos dias de hoje, parece que fica cada vez mais difícil achar alguém para ser um modelo de conduta, um exemplo de vida e caráter. Em tempos nos quais uns são adorados por atirar aviões contra prédios cheios de pessoas e outros por terem a “coragem” de invadir e bombardear nações para combater o “mal do terror”, mesmo que para isso muitas vidas inocentes tenham que ser ceifadas, o conceito de herói parece estar difuso e perdido. Até mesmo alguns que sempre foram tidos como grandes líderes e modelos caem em desgraça por não corresponderem às expectativas de seus adoradores. Agora mesmo temos um presidente que era visto como grande líder sindical e defensor dos desfavorecidos e acabou tachado de grande decepção ao se descobrirem suas falhas, embora tudo indique que será reeleito, talvez por falta de um salvador melhor em quem possamos confiar. Mas isso aqui não é um ensaio sobre política e não pretendo ir mais longe nessa discussão. O que quero mostrar é a fragilidade da figura atual do herói frente à descoberta de seus erros. Porém, é preciso lembrar que heróis também erram. Leitor de quadrinhos fiel até hoje, sei bem que muitas histórias das revistas se desenrolam justamente a partir de grandes erros que os heróis cometem. Mas, apesar de continuar um admirador das lições que os super-heróis dos quadrinhos são capazes de passar, não preciso recorrer a personagens fictícios ou históricos para ter alguém a quem adorar. Numa dessas sortes fenomenais que nos atinge a uma probabilidade de uma em um milhão, nasci filho daquela que é a pessoa mais admirável que conheço. Ela pode não ter superpoderes, mas sua sensibilidade, sua compreensão, seu carinho, sua solidariedade, seu desprendimento, sua sabedoria, seu amor possuem um impacto muito maior na vida dos que a cercam do que qualquer visão de raio-X ou capacidade de vôo. Entretanto, o mais incrível é que, mesmo ciente de que qualquer herói possui suas falhas, eu não consigo ver nenhum defeito nela. Minto. Após muito pensar sobre isso, pois nunca me entrou na cabeça que um ser humano como qualquer outro não possua um defeito que seja, só consegui chegar à sua mania de cuidar tanto dos outros e deixar de cuidar mais de si. E, mesmo com tanto esforço, só fui capaz de encontrar algo que só prejudica a ela mesma e não aos outros. O fato é que, mesmo que eu porventura encontre mais alguma falha nessa que é a pessoa mais extraordinária que conheço, ela continuará sendo a minha heroína. Parabéns, mãe!

sábado, 2 de setembro de 2006

Tudo pelos 15 minutos de fama?

Eu e minhas indagações extremamente relevantes. Estava eu assistindo TV essa semana quando, em uma zapeada, acabei no Vídeo Game, aquele programinha da Globo que serve para ficar promovendo outros programas da Globo e artistas da Globo com a participação de artistas de onde (ganha um doce quem souber)? Da Globo! E peguei o programa bem na hora do quadro da prova da platéia. Se você já foi a alguma gravação do Vídeo Game com uma cartolina onde se lia “Escolhe eu” e um buraco no formato do seu rosto, me desculpe, mas não existe nada mais ultrajante do ficar pulando desesperadamente na platéia para ser escolhido para uma prova que, via de regra, resume-se a realizar tarefas ridículas e degradantes em cadeia nacional para dar pontos a algum artista da Globo que, muito provavelmente, está ali só porque é obrigado por contrato a participar daquela palhaçada. E eu me vi pensando: “Jesus amado, essas pessoas vão a esse programa e querem participar dele porque gostam?” Logo meus pensamentos extrapolaram para outros programas de auditório de qualidade duvidosa (para não dizer péssimos), tipo Sabadaço (pausa para ânsia de vômito), Superpop (fui tomar um Dramin) ou Domingo Legal (não deu, acabei abraçado com a Celite!). Vocês já pararam pra pensar no que leva um pobre ser humano a sair da sua residência para ir assistir in loco a esses programas indigestos? Pois é, eu fiquei aqui, matutando que espécie de infância teve uma pessoa que está todas as noites no auditório da Luciana Gimenez (aquela doidinha cujo maior feito na vida foi ter tido um filho do Mick Jagger). Será que ela foi obrigada a trabalhar numa mina de carvão por uma mãe fumante, alcoólatra, esquizofrênica e cleptomaníaca, que batia nela todas as noites com livros, revistas científicas e discos de música clássica e depois ia assistir TV alegre e satisfeita? Acho que essa nem Freud explica!