domingo, 13 de maio de 2007

Mãe

Como sou um adepto da sustentabilidade e de atitudes ecologicamente responsáveis, o texto de hoje será reciclado. Mas não porque a data não mereça um texto para si, e sim porque este que publico já diz tudo que eu queria dizer. O texto a seguir é de um e-mail que enviei ao programa Saia Justa na última quarta, após ver uma discussão das saietes sobre a irreal expectativa dos filhos de que suas mães sejam perfeitas. Aqui vai.

Acabei de ver a discussão do programa desta quarta, 9 de maio, sobre a expectativa de perfeição das mães por parte dos filhos e como isso é irreal e inexistente. Como esse é um tema que pautou e pauta minha vida até hoje, senti-me compelido a enviar este e-mail.
Inexplicavelmente, conheço uma mãe que consegue ser perfeita: a minha. Aviso: isso não é rasgação de seda motivada pelo dia das mães que se aproxima, é fruto da mais pura observação íntima, quase antropológica. Enquanto muitos filhos passam a vida esperando por provas de perfeição de suas mães, eu passei meus 25 anos de existência aguardando um gesto de imperfeição, um deslize, um desequilíbrio, uma prova de humanidade daquela que é modelo para mim. E até hoje não vi tal prova de que minha mãe não é um ser cósmico, uma entidade platônica que consegue congregar todos os aspectos da perfeição do conceito materno, mas sim uma reles mortal.
Tanto é verdade que eu, que sempre fui dado a presentear aqueles que prezo com sentimentos vestidos de palavras, não tenho mais o que escrever nessa data que se repete todos os anos que não tenha a ver com meu espanto ao constatar que mesmo os momentos de aspereza do passado que me marcaram profundamente foram as ferramentas que moldaram meu caráter e me deram senso de disciplina e responsabilidade. Das provas de carinho, amor, compreensão, bom, dessas eu nem falo, pois não há tempo e espaço suficientes.
Como é possível existir tal pessoa? Eu, sinceramente, não sei, já havia dito que era algo inexplicável. A única coisa que posso dizer é que minha mãe é um caso a ser estudado e documentado. Pena que não possa ser por Freud, pois a mãe da sabedoria materna merecia ser estudada pelo pai da psicanálise.

Tiago Sitônio Guedes,
filho, discípulo, admirador e seguidor de Mafalda Sitônio Guedes.