quinta-feira, 26 de março de 2009

Em breve, num orelhão perto de você

Digam se não faz a gente se sentir especial saber que vivemos uma época de total mudança de paradigmas? Não, não estou me referindo ao fato de um-homem-negro-de-origem-árabe ter sido eleito presidente dos Estados Unidos (coitado do Obama, não há obamamania que resista à crise), mas a coisas bem mais cotidianas e banais.
Não vou repetir questões já abordadas em outro post, como ter vivido pra ver um LP rodando na vitrola ou uma fita K7 se enrolando dentro do som (Ô ódio!). Existe uma expressão, uma pequena frase que usamos frequentemente nos nossos colóquios que só faz sentido pra nós da geração analógico/digital: caiu a ficha?
Pensem só: orelhões de ficha nem devem existir mais (se alguém ainda conhece algum, por favor compartilhe essa raridade com nossos internetespectadores). Para alguns seres emo a expressão não deve fazer o menor sentido. E aí vem a minha preocupação linguística: o que acontecerá com a expressão “cair a ficha”? Será substituída (já com atraso) por “descontar a unidade” ou “entrar o cartão”? Ou, com o advento do celular, será trocada de vez por algo do tipo “descontou o crédito”?
É, a tecnologia às vezes descomplica por um lado, mas complica tanto por outro.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Não tem desculpa

Incrível como algumas palavras e expressões são totalmente vazias de significado. Mais impressionante ainda é como outras podem significar exatamente o oposto do que pretendem. Toda essa minha análise semântica começou com um pequeno momento de reflexão que decidi tomar sobre uma frase comumente dita por qualquer um de nós: “Desculpa qualquer coisa”. A reflexão veio depois de perceber que a expressão vinha me causando muita repulsa. E por que seria? Cheguei à conclusão de que era porque a frase é um total engodo. É a pele de cordeiro que o lobo usa pra se esconder no rebanho. O intuito das singelas palavras é de se mostrar humilde, de reconhecer sua falibilidade e demonstrar grandeza de espírito de reconhecer os próprios erros. Acontece que a frase faz justamente o contrário.
Em primeiro lugar, a pessoa que a profere é incapaz de reconhecer o que fez de errado. Ora, até onde sei, a moral e a ética se definem justamente pela capacidade de discernir entre o certo e o errado – e escolher o caminho mais nobre. Ao dizer “desculpa qualquer coisa”, a pessoa pede um salvo-conduto para suas atitudes, algo do tipo “esquece o que fiz até agora”, sem nenhuma garantia de que não se repetirá no futuro, dado que a pessoa não sabe o que fez de errado.
E não humildade em não se reconhecer exatamente a atitude errada tomada, a palavra injusta dita, o gesto desnecessário realizado. O que é o mais difícil em se pedir desculpas? É reconhecer que aquele ato específico foi errado, que não se deveria ter agido daquela forma. A especificidade é a chave do negócio aqui. Reconhecer o exato erro é o pré-requisito das desculpas.
Resumo da ópera? Dizer “desculpa qualquer coisa” é dizer, na verdade, “desculpa por nada”.