segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Manual de sobrevivência

Como sou uma pessoa caridosa e preocupada com seus semelhantes, aqui vão algumas dicas para quem vier ao Rio de Janeiro. Não, eu não vou dar dicas de como não ser assaltado, não ser seqüestrado ou não ser atingido por uma bala perdida. É bem verdade que as coisas aqui não são um mar de rosas, mas também não são esse bicho de sete cabeças que pintam por aí e eu não sou Secretário de Segurança do Rio de Janeiro. Digressão: falando em política, lembrei-me agora da propaganda eleitoral do Sérgio Cabral, o próximo governador do Rio. Em uma das campanhas do então candidato, aparecia um popular falando efusivamente que o Sérgio Cabral olhava nos olhos da pessoa com quem falava, era só esse o argumento de defesa do eleitor. Ué! Ele estava se candidatando a governador ou a oftalmologista? Voltando: minhas dicas serão sobre assuntos bem mais amenos e cotidianos. Afinal de contas, é de coisas cotidianas que se faz um dia. Dica 1: quem tem um olhar mais atento ao assistir à enfadonha novela das oito (é fato: Manoel Carlos perdeu completamente a mão, nem a Helena da Regina Duarte é a mesma), que possui um bom número de cenas nas ruas cariocas, já deve ter percebido que aqui é comum haver umas colunas de concreto nas calçadas (assista à missa e veja a dica mais à frente). Evite sempre passar por perto dessas colunas! Por quê? Porque são um dos alvos favoritos dos 532 milhões de cachorros do Rio de Janeiro e você corre o sério risco de molhar o solado do seu sapato em algo que não é exatamente a mais pura água Perrier. Dica 2: ainda por causa dos 598 milhões de cachorros (como assim? Já aumentou? Pois é, eu também não entendo de onde vem tanto cachorro!), é bom olhar sempre para o chão. Eles costumam deixar outro tipo de lembrança mais... mais... consistente, digamos assim, e muitos donos não têm educação suficiente para recolher os “recados” que seus companheirinhos deixam nas calçadas. Dica 3: vocês se lembram das tais colunas de concreto? Pois é, elas devem existir para evitar que os motoristas estacionem sobre as calçadas. E aqui vem a outra dica: se você não costuma andar de metrô (o melhor meio de transporte que existe!!!), ônibus ou táxi (a única coisa que existe mais do que cachorro por aqui), cuide de chegar cedo a qualquer lugar a que você vá de carro para procurar uma vaga, pois lugar para estacionar no Rio anda mais em extinção do que o dodô. Dica 4: sábado ou domingo de sol? Corra pra praia cedo, pois, em ocasiões assim, o grão de areia vale mais do que o grama do ouro! Tenho medo de começar a haver umas invasões em Ipanema e no Leblon do MSP – Movimento dos Sem Praia. Reforma praiária já, companheiros!!! Dica 5: é verão e você precisa andar pelas ruas do Rio ao meio-dia? Vá com fé, irmão, mas encha suas roupas com aquelas bolsas térmicas cheias de água gelada, praticamente congelada. Quem sabe assim você consegue sobreviver a 5 minutos nas escaldantes ruas cariocas no verão. Dica 6: agora sou eu que peço. O verão está chegando e eu faço o que pra escapar do calor? Legal quando a gente escuta a Fernanda Abreu cantando “Rio 40 graus, cidade maravilha purgatório da beleza e do caos”, né? Pois vem pra cá no verão, amigo, e vê se você continua com essa visão poética da coisa!!

sexta-feira, 13 de outubro de 2006

There is nothing to see here

Semana passada eu conheci uma garota que conhece um cara (o amigo do primo do vizinho do cunhado do dentista do irmão...) que faz a edição de “matérias” do Sabadaço, aquele excelente programa de um anti-apresentador (tipo o anti-Cristo mesmo, o exato oposto do que é um apresentador) chamado Gilberto Barros (“Boa noite, Brasil!!”). E o pior é que eu ainda vi a matéria que ele veio fazer aqui no Rio sobre a Princesa do Funk, aquela psicóloga que largou o consultório – que, com certeza, vivia abarrotado de clientes – para virar funkeira. Eu já confessei que às vezes dou uma “sapeada” (neologismo Silvio Santístico) pelos programas de excelente qualidade da TV brasileira para ver o que de grotesco está rolando por lá. Eu permaneço convicto do argumento de que temos que assistir a essas coisas de vez em quando para podermos falar com propriedade que o negócio é ruim que dói. Mas cuidado! Como todo veneno, só não é letal em doses pequenas! Qualquer coisa superior a 5 minutos causa sérios danos às funções cerebrais! Mas acho que há algo mais do que o espírito crítico-pesquisador nessas assistidelas de programas do naipe do Sabadaço, Superpop e Domingo Legal. Deve haver algum impulso intrínseco da natureza humana pelo bizarro. Tipo quando passamos devagar por um acidente de carro para dar uma espiada mesmo sabendo que não devemos. Antes de entrar na faculdade, eu me continha ainda mais nas minhas passadas pelos péssimos programas da TV, pois eu me recusava a dar Ibope àquelas coisas. Mas nada como a experiência acadêmica para ensinar que o Ibope é medido através de um cálculo estatístico baseado na amostragem dos dados coletados pelos aparelhos instalados nos televisores de alguns poucos domicílios escolhidos pelo Brasil. A minha dúvida é só como classificar os 3 programas citados anteriormente: qual deles seria um engavetamento de 5 ônibus, 2 caminhões e 7 carros em que morreram os motoristas de todos os veículos, qual seria um engavetamento de 7 ônibus, 3 caminhões, 2 vans e 10 carros de passeio em que morreram metade dos passageiros e qual seria o top top, aquele engavetamento de 10 Scanias, 15 ônibus, 37 carros de passeio, 9 vans, 15 motos, 3 velocípedes, 5 triciclos, 2 patinetes, 4 skates e 2 carrinhos de rolimã causado pela queda de um helicóptero – o Águia Dourada, por exemplo – em que todas as vítimas foram mortas e esquartejadas pelas hélices do aparelho voador. Briga feia essa, hein?

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Antes tarde do que nunca

Tal qual Roberto Pompeu de Toledo em seus artigos na revista Veja, eu tenho evitado comentar sobre política nesse singelo blog que vos fala, algo bem diferente do que ocorreu nas eleições de 2004, no desenrolar da eleição e renúncia de Severino Cavalcanti e em outros episódios grotescos da política brasileira, quando discuti, recorrentemente, o assunto. Mas não consigo continuar evitando-o sem me sentir omisso, se não para com meus leitores que prezam de alguma forma minha opinião, pelo menos para comigo mesmo. É desnecessário falar do assombro, da revolta, da indignação e do asco sentidos ao ver seguidas denúncias e escândalos de corrupção. Cada vez mais eu me convenço de que a profissão de político não é escolhida por aqueles que querem trabalhar pelo país e ajudar seu povo a ter uma vida mais digna, o que deveria ser a motivação de todo e qualquer político, mas sim por aqueles que querem tirar vantagem e fazer dinheiro às custas daqueles a quem deveriam ajudar e honrar pelo voto de confiança depositado nas urnas. Agora nos encontramos às vésperas de um segundo turno para eleições presidenciais diante do seguinte cenário: reeleger Lula, representante maior do governo dos escândalos de corrupção, ou eleger Alckmin, o assumido picolé de chuchu. Quanto a Lula, como um de seus votantes na eleição passada que depositaram inúmeras esperanças no seu governo – difícil será esquecer o que senti quando vi a comoção que tomou conta deste país quando da eleição de Lula em 2002 – posso dizer que estou tremendamente decepcionado. Não que eu ache que seu governo seja mais corrupto, talvez até seja mesmo. Creio que o que houve foi um maior esforço em tornar clara a bandalheira durante o tão buscado governo do PT, que demorou a vir. A podridão da política brasileira só veio à tona com mais força neste governo por obra daqueles que dela participavam em governos anteriores. Mas a minha decepção para com Lula é pela falta de atitude mais enérgica contra os que foram flagrados em meio aos escândalos, pela falta de interesse para com o que estava acontecendo em seu partido e em seu governo, pois creio que ele não sabia do que acontecia, mas por pura ignorância escolhida. Também me decepciono com a falta de habilidade para realizar as mudanças e fazer os devidos investimentos de que o país necessita para, finalmente, passar a um estado de evolução sócio-econômica desejável. Houve melhoras? Sim, houve. Um balanço recente revelou que a qualidade de vida melhorou para os brasileiros de menor renda, para quem a política deve ser feita com maior esmero, sem nenhuma demagogia, pois é para eles que devem ser voltados os esforços para criar oportunidades de emprego e renda para afastá-los de meios de sobrevivência na contravenção, o que acaba atingindo a camada mais abastada da população, cada vez mais presa em suas mansões cercadas de grades e carros blindados. Muito dessa melhora se deve aos programas assistenciais do governo, como o Bolsa Família, que não são a melhor saída para resolver o problema dos pobres e famintos. E daí vem boa parte das críticas ao governo Lula, que ajudou os pobres da maneira mais básica que existe, dando o peixe em vez de ensinar a pescar, como tanto se repete. Concordo plenamente. Acho que esse tipo de programa não é exemplar para erradicar a fome, como o presidente tanto se vangloria. Mas já é alguma coisa. Fala-se que tal assistencialismo é usado para comprar o voto da camada mais pobre atendida pelo programa. Eu, na minha eterna boa vontade e no meu desejo de acreditar no bem nas pessoas, prefiro crer que tais programas são fruto da incapacidade político-administrativa em realizar programas mais eficazes, que realmente dêem condições ao povo de caminhar com as próprias pernas. Até porque essa discussão sobre as intenções por trás de cada ato, político ou não, pode se estender infinitamente sem chegar a nenhuma conclusão. Do outro lado temos Geraldo Alckmin, tucano. Apesar de a existência de tantos partidos no Brasil e o troca-troca partidário dos políticos fazerem com que não exista nenhum partido consistente de verdade, o formato tucano é algo que me preocupa, e Alckmin me parece ser forte representante desse formato, além de não ter nenhum carisma pessoal que me atinja. Assim permaneço na dúvida, sem saber o que fazer do meu voto, ciente apenas de que anulá-lo não vai resolver nada. E agora ficamos nós nessa situação, entre um e outro, sem saber o que será pior para o Brasil, pois já estamos perdendo a fé de procurar pelo melhor.