segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Antes tarde do que nunca

Tal qual Roberto Pompeu de Toledo em seus artigos na revista Veja, eu tenho evitado comentar sobre política nesse singelo blog que vos fala, algo bem diferente do que ocorreu nas eleições de 2004, no desenrolar da eleição e renúncia de Severino Cavalcanti e em outros episódios grotescos da política brasileira, quando discuti, recorrentemente, o assunto. Mas não consigo continuar evitando-o sem me sentir omisso, se não para com meus leitores que prezam de alguma forma minha opinião, pelo menos para comigo mesmo. É desnecessário falar do assombro, da revolta, da indignação e do asco sentidos ao ver seguidas denúncias e escândalos de corrupção. Cada vez mais eu me convenço de que a profissão de político não é escolhida por aqueles que querem trabalhar pelo país e ajudar seu povo a ter uma vida mais digna, o que deveria ser a motivação de todo e qualquer político, mas sim por aqueles que querem tirar vantagem e fazer dinheiro às custas daqueles a quem deveriam ajudar e honrar pelo voto de confiança depositado nas urnas. Agora nos encontramos às vésperas de um segundo turno para eleições presidenciais diante do seguinte cenário: reeleger Lula, representante maior do governo dos escândalos de corrupção, ou eleger Alckmin, o assumido picolé de chuchu. Quanto a Lula, como um de seus votantes na eleição passada que depositaram inúmeras esperanças no seu governo – difícil será esquecer o que senti quando vi a comoção que tomou conta deste país quando da eleição de Lula em 2002 – posso dizer que estou tremendamente decepcionado. Não que eu ache que seu governo seja mais corrupto, talvez até seja mesmo. Creio que o que houve foi um maior esforço em tornar clara a bandalheira durante o tão buscado governo do PT, que demorou a vir. A podridão da política brasileira só veio à tona com mais força neste governo por obra daqueles que dela participavam em governos anteriores. Mas a minha decepção para com Lula é pela falta de atitude mais enérgica contra os que foram flagrados em meio aos escândalos, pela falta de interesse para com o que estava acontecendo em seu partido e em seu governo, pois creio que ele não sabia do que acontecia, mas por pura ignorância escolhida. Também me decepciono com a falta de habilidade para realizar as mudanças e fazer os devidos investimentos de que o país necessita para, finalmente, passar a um estado de evolução sócio-econômica desejável. Houve melhoras? Sim, houve. Um balanço recente revelou que a qualidade de vida melhorou para os brasileiros de menor renda, para quem a política deve ser feita com maior esmero, sem nenhuma demagogia, pois é para eles que devem ser voltados os esforços para criar oportunidades de emprego e renda para afastá-los de meios de sobrevivência na contravenção, o que acaba atingindo a camada mais abastada da população, cada vez mais presa em suas mansões cercadas de grades e carros blindados. Muito dessa melhora se deve aos programas assistenciais do governo, como o Bolsa Família, que não são a melhor saída para resolver o problema dos pobres e famintos. E daí vem boa parte das críticas ao governo Lula, que ajudou os pobres da maneira mais básica que existe, dando o peixe em vez de ensinar a pescar, como tanto se repete. Concordo plenamente. Acho que esse tipo de programa não é exemplar para erradicar a fome, como o presidente tanto se vangloria. Mas já é alguma coisa. Fala-se que tal assistencialismo é usado para comprar o voto da camada mais pobre atendida pelo programa. Eu, na minha eterna boa vontade e no meu desejo de acreditar no bem nas pessoas, prefiro crer que tais programas são fruto da incapacidade político-administrativa em realizar programas mais eficazes, que realmente dêem condições ao povo de caminhar com as próprias pernas. Até porque essa discussão sobre as intenções por trás de cada ato, político ou não, pode se estender infinitamente sem chegar a nenhuma conclusão. Do outro lado temos Geraldo Alckmin, tucano. Apesar de a existência de tantos partidos no Brasil e o troca-troca partidário dos políticos fazerem com que não exista nenhum partido consistente de verdade, o formato tucano é algo que me preocupa, e Alckmin me parece ser forte representante desse formato, além de não ter nenhum carisma pessoal que me atinja. Assim permaneço na dúvida, sem saber o que fazer do meu voto, ciente apenas de que anulá-lo não vai resolver nada. E agora ficamos nós nessa situação, entre um e outro, sem saber o que será pior para o Brasil, pois já estamos perdendo a fé de procurar pelo melhor.

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