segunda-feira, 21 de julho de 2008

Quem dá aos pobres...

Fato: felicidade alheia incomoda. Mas vamos combinar que há momentos em que a pessoa tem todo o direito de ser amargurada e desejar todo o mal aos casais felizes que esfregam sua joie de vivre (alegria de viver em francês – nóis é chique, benhê!) na nossa cara nos piores momentos possíveis.
Eu já tinha experimentado semelhante sentimento de ódio ao sorriso alheio quando uma vez, meses atrás, eu fiquei preso em uma fila de caixa de supermercado atrás de um casal de namorados se beijando apaixonadamente. O pior é que eram aqueles mini-beijos estalados (Ô ódio!). In the name of the Lord! Mini-beijos estalados ninguém merece! É irritante demais!
Pois no fim de semana passado eu me vi em situação semelhante: preso na fila do ônibus do metrô atrás de um casal mega apaixonado e fofolete. Esses não davam mini-beijos estalados, mas ficavam esfregando o nariz um no outro de olhos fechados, com movimentos lentos da cabeça. Ódio duplo!
Foi então que entendi que a agravante da história toda é, além de você estar vendo gente amando e beijando na boca enquanto você não está, ver gente feliz da vida enquanto você está fazendo algo extremamente chato e sacal, praticamente a definição de “fila”. Procura lá o verbete no dicionário que você vai encontrar.
Sim, porque uma coisa é você estar na maior dor de cotovelo em um show do Djavan sozinho enquanto variados casais se abraçam e sacodem o corpinho ao ritmo da música juntinhos. Você está na merda, mas tem o show pra te distrair. Você presta atenção nas trancinhas do Djavan e abstrai a felicidade alheia. Mas numa fila? Você vai fazer o quê, pela hóstia consagrada? Acho que vou começar um tratamento de choque: quando me encontrar em outra situação dessas, vou chegar pro casal e dizer “É o seguinte, ou vocês param de contar dinheiro na frente de pobre ou vão ter que repartir comigo”. É a reforma agrária do beijo.

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