quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

Tempos modernos

Passando perto do playground ontem, eu ouvi uma mulher fazendo uma série de perguntas a umas meninas aqui do prédio. Todas sentadas em círculo no chão, a mulher lia em uma revista ou em algum livro as perguntas. A primeira que ouvi foi: “Você gosta de estar em contato com a natureza?” Prontamente uma menina, do alto dos seus 7 anos, disse que não. As outras se abstiveram de fazer comentários e, como já diz o ditado, quem cala consente. A segunda pergunta foi: “Você é a primeira a ter o celular mais moderno?” Dessa vez, sim, umas 3 meninas responderam: “SIM!!!” Juntando isso ao fato que eu já percebi há algum tempo e estava para comentar aqui algum dia – o fato de que cresce cada vez mais a quantidade de crianças de 4 ou 5 anos cujo principal brinquedo é um triciclo elétrico (daqueles que ficam fazendo um barulho infernal de carrinho de controle remoto velho) –, eu já consigo vislumbrar onde estará essa geração daqui a 40 anos: sentada numa poltrona em frente à TV, juntamente com seus 140 quilos, cercada de controles remotos e aparelhos eletrônicos que ajudem a manter o seu sedentarismo no mais alto grau em um apartamento com uma bela vista para um viaduto ou uma ponte de um concreto do mais puro cinza! Natureza? O cheiro do concreto depois de uma chuva ácida é muito melhor do que aquele enjoado cheiro de terra molhada, ou o cheiro do mar, ou de grama, ou de jasmim. Esportes? Deixa disso! Estamos na época da escada rolante, do controle remoto, do elevador, dos brinquedos que exigem apenas que fiquemos sentados apertando um botão. Amigos? Pra quê? Com meu celular de última geração eu tenho o melhor amigo que alguém pode ter, um tamagochi que ainda serve para ligar para as pessoas. Mas essa função eu nem utilizo, pois, para mim, o importante de um celular é ser o mais moderno que há, com mais funções, com câmera, com visor colorido. Com tudo isso, pra que eu preciso ligar para alguém?

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