terça-feira, 7 de setembro de 2004

Apenas palavras

A tarefa que tenho hoje é praticamente impossível. Entrego as armas antes mesmo da batalha. Derrotismo? Não, consciência plena da incapacidade de realizar tamanho feito. Por mais belas que sejam as palavras escolhidas, por mais harmoniosa que seja a tessitura do texto e por mais sinceros que sejam os sentimentos que me movem, ainda assim é impossível transmitir através de qualquer língua conhecida pelos homens o real valor de quem quero homenagear hoje, no dia de seu aniversário: minha mãe. Creio que esse objetivo só seria alcançável se eu conseguisse atingir o mundo das idéias de Platão, onde todas as coisas são perfeitas, das quais tudo que existe neste mundo, inclusive as palavras e conceitos que possuímos do que conhecemos, é apenas sombras. Ou se eu fosse capaz de falar não a língua dos homens, mas a língua divina, ensurdecedora, maviosa e produtora de todos os sentidos e sentimentos. O fato é que, com o português que conheço, só o que posso é tentar chegar o mais próximo possível disso. Na verdade, começo a pensar que isto não se trata de uma homenagem, mas sim de uma auto-congratulação. Não bastasse eu ter o prazer de conhecer Mafalda Sitônio Guedes, eu ainda tenho a sorte de ser seu filho e ter convivido com ela extremamente de perto em grande parte desses meus 23 anos de vida. Foi ela que me ensinou a assumir as conseqüências dos meus atos. Exemplo maior? Quando estava eu na 7ª série, ao digitar um comando errado no computador recém-comprado lá de casa e perder quase todo o trabalho de História que eu tinha que entregar no dia seguinte, ela se negou a escrever um bilhete para a minha professora explicando o acontecido e pedindo um novo prazo de entrega. O que ela alegou para não fazê-lo? Que eu poderia ter feito o trabalho antes, mas deixei para a última hora. Se eu fiquei chateado com ela na época? Muito! Mas, muitas vezes, só enxergamos o bem que alguém nos fez muito tempo depois, especialmente quando ainda somos crianças. Ela me ensinou a nunca “dar meu lugar a ninguém”, fazendo sempre mina parte e demonstrando muita atenção e gentileza mesmo por quem não retribui na mesma medida. Ela me ensinou a esquecer mesquinharias e tentar conviver da melhor forma possível com todas as pessoas à minha volta. Ela me ensinou a ver parte das pessoas que amo em outras que, por si mesmas, não são capazes de me despertar amor e carinho e, assim, tentar gostar um pouco mais delas. Ela me ensinou que me dar bem às custas de outras pessoas não vale a minha paz de espírito e minha consciência tranqüila ao deitar a cabeça no travesseiro à noite. Ela me ensinou a dar o melhor de mim em tudo o que eu faço. Ela me ensinou que viver é algo maravilhoso não porque seja fácil e divertido o tempo todo, mas porque é muito gratificante ver nossos esforços darem bons frutos, mesmo que alguns se estraguem durante o percurso.

Parabéns, mãe!

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