segunda-feira, 20 de setembro de 2004

Quando tudo se resolve com uma lei

Assistindo ao Jornal Nacional, vi a matéria sobre a decisão da UFRJ de não adotar o sistema de cotas para o vestibular de 2005. O documento do conselho da universidade em que se justificava a decisão afirmava que a solução para o problema das desvantagens que enfrentam pobres, negros e indígenas está no investimento para garantir um ensino público fundamental e médio de qualidade. O ministro da Educação Tarso Genro disse respeitar a decisão da universidade, mas que, a partir do momento em que o sistema de cotas se tornar lei federal, ela terá que acatar a decisão. Assim como a Universidade Federal do Rio de Janeiro, reconheço todos os problemas que enfrentam negros, pobres e indígenas no nosso país, fruto de desigualdades coloniais que não se resolveram com proclamações de independência, da República ou de abolição da escravatura. Agora, não me entra na cabeça que há quem acredite, realmente, que a solução está em “forçar” a entrada na universidade de pessoas que foram marginalizadas e desprivilegiadas durante uma vida inteira, como se isso fosse, magicamente, resolver seus problemas e torná-las pessoas preparadas para concluir sua formação superior. Ora, se já foram feitas matérias jornalísticas sobre alunos que passaram, sem sistema de cotas ou qualquer outro meio de ajuda, no vestibular de uma universidade pública e tiveram que fazer um cursinho de revisão para conseguirem acompanhar as matérias da universidade, imagine alguém que teve um ensino fundamental e médio medíocre e que é jogado para dentro de uma universidade pública porque o governo achou que fica mais bonito pro Brasil colocar uns negros no ensino superior e resolveu fingir que a culpa por essas pessoas não poderem entrar numa universidade por meios “normais” não é dele. Quando digo governo não me refiro ao governo Lula única e especificamente, mas ao governo de todos os políticos que já brincaram de poder desde aquele 15 de novembro, lá em 1889. Não vou nem falar de datas anteriores a essa para ninguém alegar que, a essa altura, o destino do Brasil não estava, totalmente, nas mãos dos brasileiros (se é que está atualmente). E também não vou começar a discutir o descaso para com as universidades públicas e seu conseqüente sucateamento, esse seria tema para mais 18.739 palavras. Quero me ater, apenas, à questão do ingresso no ensino superior. Bem, já que os governantes acreditam que uma lei pode resolver algo que deveria ter sido preparado e cuidado durante todo um período anterior, se, ao defender minha monografia, minha banca achar que ela não está satisfatória, eu vou pedir uma lei para um sistema de cotas de diplomas para universitários desesperados para se formar.

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