quarta-feira, 29 de setembro de 2004

Uma esmolinha pelo amor de Deus

Um programinha básico combinado meio que em cima da hora rendeu ótimos momentos ontem: uma ida à Barbaresco para tomar um sorvete. Claro que qualquer programa com a qualidade do grupo de amigos de ontem só pode dar em coisa boa. Aliás, acho que merecíamos o ISO 9001 da amizade. Se precisar de uma grande região para colar o adesivo, não tem problema: sapeca o papelzinho grudento no meu nariz que tá tudo dominado. Mas agora quero falar sobre algo que conversamos na sorveteria e rendeu muito, sem chegar a uma conclusão (e nem sei se é possível chegar a alguma). Começamos a falar sobre assaltos e quase-assaltos (e todo mundo tem uma história dessa para contar) e desembocamos na questão dos pobres e miseráveis. Nossa primeira reação ao sermos abordados nas calçadas ou sinais de trânsitos por alguém pedindo uma esmola é dizer “não tenho”, salvo raras exceções em que simpatizamos, por qualquer motivo explicável ou não, com o pedinte. E o que nos leva a fazer isso? O primeiro argumento é que não sabemos se aquela pessoa realmente precisa, se não está se aproveitando da caridade alheia (o que foi confirmado por várias histórias contadas ali), principalmente quando ela traz uma criança a tiracolo. E, por mais verdadeiro que seja esse argumento, não sabemos em que casos ele se aplica ou não. Creio que, na verdade, nos valemos de tal argumento para aliviar nossa consciência por não ajudar aquela pessoa. Foi aí que eu joguei a pergunta na mesa: e o que nós podemos e devemos fazer? Qual o nosso papel? Acredito que o que nós fazemos é acreditar que nossa tarefa é, simplesmente, votar e deixar os governantes resolverem isso. Sim, é bem verdade que os políticos deveriam fazer muito, muito mais do que fazem. Mas acreditar que votar é suficiente e que, depois disso, estamos completamente desobrigados de qualquer outra atitude é de extremos comodismo e preguiça. Mesmo tendo apenas começado a ler “Ensaio sobre a lucidez”, do meu guru intelectual José Saramago, já começo a me perguntar até que ponto o voto garante mesmo a democracia, ou seja, o governo DO povo, principalmente quando as pessoas começam a eleger alguém como a Déborah Soft para vereadora, isso sem falar nos candidatos que estão à frente na corrida para prefeito de Fortaleza nas pesquisas divulgadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário