domingo, 26 de junho de 2005

Um bom exemplo

Quem é leitor antigo (e assíduo) do “Enquanto isso, na Sala de Justiça” deve se lembrar da vez em que desanquei a campanha do governo federal “O melhor do Brasil é o brasileiro” que mostrava imagens da recuperação do Herbert Viana e, principalmente, do Ronaldinho. Hoje volto ao tema para elogiar a nova iniciativa. A campanha do “Bom exemplo” passa a mensagem que eu defendi quando critiquei a campanha passada. Enquanto as imagens de superação de Ronaldinho e Herbert Viana corroboravam o esforço individual em prol da superação dos próprios limites em função de si mesmo, as novas imagens, mostrando um jovem dando seu assento no ônibus a uma senhora, outro ajudando uma outra idosa a atravessar a rua, um garoto jogando um papel que estava no chão dentro de uma lixeira, indicam o que precisamos fazer para melhorar como povo. A campanha, que pede que sejamos educados, que digamos bom dia, com licença, muito obrigado, que nos incentiva a ser pacientes, a respeitar os outros, a saber ouvir, conversar, dar um conselho quando possível, mostra o que pode tornar o brasileiro o melhor do país. Civilidade não se constrói, apenas, com aumento de PIB, com superávit comercial, com aumento da bolsa de valores, com a queda do Risco Brasil, com a venda de CD’s (originais, é claro) de músicos que conseguiram, heroicamente, superar os traumas de um acidente nem com a recuperação de jogadores de futebol que voltaram a receber seus salários milionários para entreter uma massa distraída dos verdadeiros problemas do dia-a-dia (sim, eu fiz julgamento de valor sobre o futebol aqui). Civilidade se faz com educação, com cortesia, com fazer o que é certo para todos, e não apenas para si mesmo. Numa época em que as pessoas se preocupam cada vez menos com a coletividade, pensando simplesmente em resolver os seus problemas, mesmo que isso signifique criar problemas para os outros (que é o que acontece quando uma pessoa joga lixo na rua porque não quer ficar segurando ou guardando aquele resíduo até encontrar uma lixeira), em que cortesia é um artigo em extinção, em que as pessoas se enxergam cada vez mais como inimigos ou competidores potenciais, pedir o retorno dos valores básicos do que define a humanidade (como conjunto de valores, não como a espécie animal) é uma atitude, no mínimo, louvável. Há algum tempo que eu comecei a pensar no poder que nós temos de impactar a vida das outras pessoas. Fazer uma grosseria a alguém porque você está com problemas que não têm relação nenhuma com aquela pessoa é uma ótima maneira de marcar negativamente o dia dela. Nós temos a opção de sermos gentis ou grosseiros, de fazer um elogio repentino ou ser indiferente. Usar as armas da civilidade é um meio poderoso de melhorar a vida dos outros e a nossa. Por isso eu canto a música da campanha federal e passo a bola para vocês: dêem um bom exemplo.

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