quinta-feira, 7 de setembro de 2006

Minha heroína

Desde pequenos nós procuramos por heróis. Normalmente, na infância, eles vêm na forma de super-heróis de histórias em quadrinhos. Aqueles personagens com seus superpoderes que são capazes de grandes sacrifícios para ajudar os outros acabam virando objeto de admiração. Eles poderiam continuar levando suas vidas, usando seus poderes apenas em benefício próprio, como se valer da superforça para abrir um vidro de azeitonas facilmente ou levantar o sofá para varrer a poeira debaixo dele sem grande esforço, mas não, eles escolhem usar suas habilidades em favor dos mais fracos e desprotegidos. Além de invejar seus poderes, que viriam bem a calhar em vários momentos, é impossível não admirar alguém assim, capaz de tamanho gesto de solidariedade, de desprendimento, de humanidade. Conforme crescemos, os nossos referenciais vão se modificando e passamos a procurar heróis mais palpáveis, presentes em nossa realidade. Acho que é da natureza humana ter alguém em quem se espelhar, ter um modelo a seguir, alguém em quem confiar. Ao longo da História, várias pessoas com essa capacidade de atrair para si respeito e veneração marcaram seu nome como grandes líderes, como Martin Luther King e Gandhi. Contudo, nos dias de hoje, parece que fica cada vez mais difícil achar alguém para ser um modelo de conduta, um exemplo de vida e caráter. Em tempos nos quais uns são adorados por atirar aviões contra prédios cheios de pessoas e outros por terem a “coragem” de invadir e bombardear nações para combater o “mal do terror”, mesmo que para isso muitas vidas inocentes tenham que ser ceifadas, o conceito de herói parece estar difuso e perdido. Até mesmo alguns que sempre foram tidos como grandes líderes e modelos caem em desgraça por não corresponderem às expectativas de seus adoradores. Agora mesmo temos um presidente que era visto como grande líder sindical e defensor dos desfavorecidos e acabou tachado de grande decepção ao se descobrirem suas falhas, embora tudo indique que será reeleito, talvez por falta de um salvador melhor em quem possamos confiar. Mas isso aqui não é um ensaio sobre política e não pretendo ir mais longe nessa discussão. O que quero mostrar é a fragilidade da figura atual do herói frente à descoberta de seus erros. Porém, é preciso lembrar que heróis também erram. Leitor de quadrinhos fiel até hoje, sei bem que muitas histórias das revistas se desenrolam justamente a partir de grandes erros que os heróis cometem. Mas, apesar de continuar um admirador das lições que os super-heróis dos quadrinhos são capazes de passar, não preciso recorrer a personagens fictícios ou históricos para ter alguém a quem adorar. Numa dessas sortes fenomenais que nos atinge a uma probabilidade de uma em um milhão, nasci filho daquela que é a pessoa mais admirável que conheço. Ela pode não ter superpoderes, mas sua sensibilidade, sua compreensão, seu carinho, sua solidariedade, seu desprendimento, sua sabedoria, seu amor possuem um impacto muito maior na vida dos que a cercam do que qualquer visão de raio-X ou capacidade de vôo. Entretanto, o mais incrível é que, mesmo ciente de que qualquer herói possui suas falhas, eu não consigo ver nenhum defeito nela. Minto. Após muito pensar sobre isso, pois nunca me entrou na cabeça que um ser humano como qualquer outro não possua um defeito que seja, só consegui chegar à sua mania de cuidar tanto dos outros e deixar de cuidar mais de si. E, mesmo com tanto esforço, só fui capaz de encontrar algo que só prejudica a ela mesma e não aos outros. O fato é que, mesmo que eu porventura encontre mais alguma falha nessa que é a pessoa mais extraordinária que conheço, ela continuará sendo a minha heroína. Parabéns, mãe!

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