quinta-feira, 18 de maio de 2006

Salvemos o Brasil

Não vou nem tentar adjetivar a onda de violência que varreu o Brasil na última semana, pois “lamentável”, “assustadora” e “preocupante” não dão conta de qualificar o bastante essa degradação total dos direitos civis básicos da sociedade brasileira. Quanto mais eu assistia aos telejornais e via o que estava acontecendo, mais chocado eu ficava. Agora, apesar de alguns ônibus ainda terem sido queimados nas últimas 12 horas e a polícia de São Paulo ter parado um carro com 4 bananas de dinamite esta manhã, as coisas começam a voltar o normal, como os noticiários tanto divulgam. Os ônibus voltam a circular, o comércio volta a abrir as portas, escolas e faculdades voltam a dar aulas, os conhecidos engarrafamentos voltam às ruas de São Paulo. E o que fica é a grande questão: o que fazer? Ao ver os senadores aprovarem em um único dia 11 medidas de segurança para tentar dificultar a organização das redes criminosas dos presídios até cheguei a pensar que os políticos brasileiros ainda são capazes de se mobilizar e fazer algo em prol do nosso povo, para quem e por quem eles deveriam sempre trabalhar, embora a mera aprovação dessas medidas não signifique que elas vão funcionar e surtir os efeitos esperados. Contudo, nossos estimados políticos parecem já ter voltado ao seu hábitat natural: um jogo de empurra das responsabilidades e culpas e a inútil e infrutífera briga entre governo e oposição. Voltamos ao velho problema deste país. O objetivo dos governantes parece não ser o de servir ao Brasil e aos seus cidadãos, que os elegeram, mas, sim, o de fazer seu partido aparecer mais aos olhos da população do que o partido da oposição. O jogo político brasileiro não tem o objetivo de construir um país, e sim o de construir legendas partidárias (que, no fim das contas, não possuem consistência nenhuma). E não são apenas os políticos que padecem dessa fraqueza de caráter de pensar em si ou em sua categoria. Já vi e revi o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Rogério Busato dando uma declaração às redes de TV se dizendo contra a medida aprovada pelo Senado que obriga os advogados dos presos a passarem por revistas ao entrarem nos presídios. Ao justificar sua posição, além de cometer um erro crasso de português, o presidente desqualificou o próprio argumento: disse que a maioria dos advogados não ferem (aqui está o erro, pois o correto seria fere) os princípios éticos da profissão. Ao falar em maioria, o presidente da OAB reconheceu a existência de uma minoria, o que mais do que justifica a revista de todos que entram nos presídios. Ao dar tal declaração, Busato só me passou a mensagem de que não se pode mexer nos brios dos advogados. Parece que tal classe não é digna de desconfiança e não merece passar por revista. Já chega de sentimentos descabidos de superioridade, seja de advogados, políticos ou de qualquer outra classe. Precisamos é de união, de formar parcerias para vencer todos os problemas que assolam nossa sociedade, e eles são muitos. Dizer que todos os políticos são iguais e se desinteressar completamente da política não vai resolver o problema. Dizer-se interessado, votar com certo grau de atenção e depois não cobrar a correta atuação dos candidatos também não vai resolver o problema. Ficar sentado no conforto do seu lar apenas escrevendo posts indignados tampouco vai trazer uma solução. Temos que fiscalizar, cobrar, exigir. Necessitamos de uma sociedade civil organizada, unida. Não é deixando tudo na mão dos políticos que as coisas vão se resolver. Chegou a hora de a sociedade brasileira sair desse estado de letargia e fazer algo em seu próprio benefício. Chega de assistirmos, diariamente, ao desrespeito completo da Constituição, que deveria ser a carta de princípios, direitos e deveres básicos do país. Não é com medidas emergenciais e paliativas que resolveremos o problema, pois a questão da segurança pública possui causas e raízes muito mais profundas. É preciso investir em educação, em saúde, em habitação. É necessário dar condições de vida aos cidadãos brasileiros para que eles não se sintam tão atraídos pelo mundo do crime. E só no momento em que a sociedade se organizar e exigir que os governos, tanto municipais quanto estaduais e federal, deixem de lado suas picuinhas e mesquinharias e comecem a trabalhar pelo país é que veremos algo mudar. Não é problema de falta de recursos, como alguns secretários de segurança insinuaram, pois a carga tributária no Brasil já está em quase 40% do PIB. O que falta é vontade política, o que falta é cidadania, o que falta é união da sociedade, e o que sobra é corrupção.

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